Uma coisa que é só sua e de mais ninguém. A revolução da mente humana se deu quando o homem se viu, pela primeira vez, como individuo único. Ele percebeu que só ele vivia aquela vida, só ele sentia o que ele sentia e só ele sabia o que ele sabia. Mais que tudo, ele possuia sua vida e com ela seus segredos e mistérios.
Todos, ou quase todos, viveram um primeiro amor. E é nesse amor envergonhado e recolhido que pela primeira vez descobrimos o prazer de se ter um segredo. Nossos pais não podem saber disso. É aí que damos o salto, ficamos á parte da familia, temos algo que é só nosso, o amor. E o acalentamos. O deixamos crescer dentro de nós. Torna-se sagrado. Entenda, em sociedades arcaicas isso não existe. Tudo ocorre ás claras, não há segredo e individuação, voce é sua comunidade, voce é tudo.
Ontem, conversando com um amigo, ele me conta da "vida compartilhada" de agora. Tudo que voce faz deve ser dividido com os outros. Voce só existe para eles.
Ora, isso é antigo, muito antigo. E é irônico que a tecnologia nos leve cada vez mais para hábitos de um remoto passado. A certeza de que uma coisa só tem valor se for "da comunidade, da rede". Seja um show, uma festa ou uma viagem, ela só é válida e "importante" se for dividida e de preferência bastante compartilhada. A pessoa abre mão da experiência pessoal, e a transforma sempre num tipo de reportagem para todos.
O caminho que temos, cerebral, sempre foi o de sentir, absorver, guardar, elaborar e memorizar. Depois vinha a transmissão. Agora o trajeto é sentir, elaborar e transmitir. Não há tempo de absorver, nada se guarda e a memória se encurta. A experiência é logo expelida para a rede e prontamente esquecida. O cérebro se esvazia e fica ávido por mais uma experiência ( cérebros abominam o vazio ), e essa nova experiência logo vem...e outra e outra e outra.... O amadurecimento se torna impossível. A vida interior se faz rala.
Penso então nos Beatles. Sim, nos Beatles. Eles tiveram a sorte de passar anos à margem do mundo. Tocando, compondo, se afirmando. Elaborando toda uma carreira dentro de si. Pegando aquele som tão "cover", Buddy Holly e Everly Brothers, e fazendo suas tentativas de originalidade. Até que anos mais tarde explodissem e se tornassem mundiais. O que seria deles hoje? Em 1960 já teriam videos na rede e faixas para download. Sentiriam desde o inicio o "gosto" da exposição. E pior, seu espirito se atiraria para fora, para o que os outros esperam. Amadurecimento, recolhimento, espera, jamais.
Outro exemplo. Ingmar Bergman.
Bergman passou dez anos fazendo um filme por ano. E nada acontecia fora da Suécia. Ninguém o conhecia. Então o que ele podia fazer? Podia aprender. Com calma, sem se sentir exposto, dentro de si, ele foi desenvolvendo um estilo pessoal. Sem pressa, filme a filme. Quando estourou em 1956 já tinha firmeza, certeza, calejamento. Estava pronto. O que seria dele hoje? Teria desde "PORTO", em 1946, seu fã-clube. E normalmente o que ele faria? Se conformaria em ser para sempre o ídolo desse fã. Na rede, precocemente ele se acreditaria pronto. Faria fé do hype criado a seu redor.
Prazeres secretos. Alguém ainda os tem?
Existe algum segredo? O prazer de comprar um disco do Velvet Underground no Brasil em 1981. E saber que nenhum amigo conhecia essa banda. E então, amar essa banda em solidão. E chegar a crer que ela é sua. Mais ainda, que seu amor a mantém viva. Cuidar desse amor que é seu e portanto se TORNA VOCE. Esse é o aprendizado da individuação.
Todos, ou quase todos, viveram um primeiro amor. E é nesse amor envergonhado e recolhido que pela primeira vez descobrimos o prazer de se ter um segredo. Nossos pais não podem saber disso. É aí que damos o salto, ficamos á parte da familia, temos algo que é só nosso, o amor. E o acalentamos. O deixamos crescer dentro de nós. Torna-se sagrado. Entenda, em sociedades arcaicas isso não existe. Tudo ocorre ás claras, não há segredo e individuação, voce é sua comunidade, voce é tudo.
Ontem, conversando com um amigo, ele me conta da "vida compartilhada" de agora. Tudo que voce faz deve ser dividido com os outros. Voce só existe para eles.
Ora, isso é antigo, muito antigo. E é irônico que a tecnologia nos leve cada vez mais para hábitos de um remoto passado. A certeza de que uma coisa só tem valor se for "da comunidade, da rede". Seja um show, uma festa ou uma viagem, ela só é válida e "importante" se for dividida e de preferência bastante compartilhada. A pessoa abre mão da experiência pessoal, e a transforma sempre num tipo de reportagem para todos.
O caminho que temos, cerebral, sempre foi o de sentir, absorver, guardar, elaborar e memorizar. Depois vinha a transmissão. Agora o trajeto é sentir, elaborar e transmitir. Não há tempo de absorver, nada se guarda e a memória se encurta. A experiência é logo expelida para a rede e prontamente esquecida. O cérebro se esvazia e fica ávido por mais uma experiência ( cérebros abominam o vazio ), e essa nova experiência logo vem...e outra e outra e outra.... O amadurecimento se torna impossível. A vida interior se faz rala.
Penso então nos Beatles. Sim, nos Beatles. Eles tiveram a sorte de passar anos à margem do mundo. Tocando, compondo, se afirmando. Elaborando toda uma carreira dentro de si. Pegando aquele som tão "cover", Buddy Holly e Everly Brothers, e fazendo suas tentativas de originalidade. Até que anos mais tarde explodissem e se tornassem mundiais. O que seria deles hoje? Em 1960 já teriam videos na rede e faixas para download. Sentiriam desde o inicio o "gosto" da exposição. E pior, seu espirito se atiraria para fora, para o que os outros esperam. Amadurecimento, recolhimento, espera, jamais.
Outro exemplo. Ingmar Bergman.
Bergman passou dez anos fazendo um filme por ano. E nada acontecia fora da Suécia. Ninguém o conhecia. Então o que ele podia fazer? Podia aprender. Com calma, sem se sentir exposto, dentro de si, ele foi desenvolvendo um estilo pessoal. Sem pressa, filme a filme. Quando estourou em 1956 já tinha firmeza, certeza, calejamento. Estava pronto. O que seria dele hoje? Teria desde "PORTO", em 1946, seu fã-clube. E normalmente o que ele faria? Se conformaria em ser para sempre o ídolo desse fã. Na rede, precocemente ele se acreditaria pronto. Faria fé do hype criado a seu redor.
Prazeres secretos. Alguém ainda os tem?
Existe algum segredo? O prazer de comprar um disco do Velvet Underground no Brasil em 1981. E saber que nenhum amigo conhecia essa banda. E então, amar essa banda em solidão. E chegar a crer que ela é sua. Mais ainda, que seu amor a mantém viva. Cuidar desse amor que é seu e portanto se TORNA VOCE. Esse é o aprendizado da individuação.