OS LEGENDÁRIOS VIKINGS de Jack Clayton com Richard Widmark e Sidney Poitier
Há uma crença, que compartilho, de que roteiristas dão bons diretores, editores se tornam bons diretores, até atores podem ser bons diretores, mas diretores de fotografia não se tornam bons diretores. Acostumados a ver filmes como apenas luz e sombra, se esquecem de ritmo e de história. Jack Clayton pode ter sido um dos 3 ou 4 maiores diretores de fotografia, mas como cineasta ele nada apresenta. Este filme é pavoroso! Uma mixórdia que mistura vikings com árabes e a busca de tesouro. Elenco perdido, roteiro cheio de furos, aventura chatíssima. Fuja!!! Nota Zero.
O MUNDO ME ODEIA de Ida Lupino com Edmond O'Brien, Frank Lovejoy e William Talman
Godard disse em seus bons tempos que para se fazer um filme bastava uma arma e uma garota. Depois ele complicou tudo e passou a crer que era preciso uma tese e uma filosofia. Aqui temos uma arma e uma garota na direção. Ida Lupino foi uma diretora num tempo em que diretoras eram olhadas como coisa suspeita. O filme, barato, que fala de bandido que corre da policia em carro com dois reféns, tem clima, emoção, inventividade. É uma pequena jóia noir feita com cenários naturais e pouquíssimo dinheiro. Uma quase obra-prima do filme B. Nota 7.
THE WAGON MASTER de John Ford com Ben Johnson e Ward Bond
Ford resolve filmar um bando de carroças crusando o deserto. Para isso usa uma história de mórmons que são conduzidos por cowboys até a terra onde viverão. Mas é tudo desculpa, o que Ford quer é filmar cavalos, pó, sol e rochas. E vemos por duas horas alegres pioneiros conduzindo sua caravana. O clima nas filmagens foi de pura amizade. Acampados, longe de Hollywood, Ford podia se dar ao luxo de filmar o quase nada. Nota 7.
DRIVE de Nicolas Winding Refn com Ryan Gosling, Carey Mulligan e Albert Brooks
Criticos muito desavisados falaram em Tarantino. Será que esses caras viram algum dia um filme de Quentin? Este em nada lembra o grande cineasta americano. Trata-se de um filme bastante desequilibrado. Temos um roteiro de uma pobreza constrangedora, e ao mesmo tempo uma direção forte, que jamais se deixa acomodar. Na verdade seria um filme sobre o vazio, o vácuo na cabeça de um driver. Bastante aparentado aliás, com um certo filme genial de Scorsese, ele nos permite fazer um paralelo: o driver de 1975 seria exagerado, paranóico, saturado de energia demais. Aqui, o driver 2012 é vazio, sem nada em seu interior, quase catatônico. Um amigo lembrou de Lynch vendo este filme. Não. Lynch é cheio de simbolismos, de pistas, labirintos cheios de sentido, aqui nada temos, o que vemos é tudo o que existe. O filme é um tipo de filme dos anos 80 ( a trilha de Cliff Martinez, que foi guitarrista de Robert Plant, é hiper 80's, uma delicia brega ), com o estilo sonado e oco dos anos 2010. Não é um filme satisfatório. Quando pegamos a pista da influência de Taxi Driver ele se esvazia. Mas o diretor tem pegada, sabe enquadrar e conduzir cada ação em seu tempo certo. Não há uma só cena longa ou curta demais. Mas o roteiro....que mancada..... Nota 6.
HABEMUS PAPAM de Nanni Moretti com Michel Picolli
Graças aos Céus!!!!! Temos um filme com gente de verdade!!!! Aqui há humanidade e não apenas um chavão psiquiátrico. As pessoas falam, sentem, sofrem, se perdem e, que bom, elas apresentam voz e rosto de pessoas comuns. Penso que o público irá até estranhar. Se desacostumaram a ver gente nas telas de cinema. O roteiro, brilhante, fala de um papa que sente pavor em ser papa. Um psicólogo vem o tratar. Moretti, socialista e ateu, não fala sobre a igreja. O que ele exibe é a inadaptação a um papel. Quem em nosso mundo, de gente tão pequena, pode ser um papa? A mensagem é profunda e belíssima: quem consegue hoje seguir o papel que se espera que seja seguido? Quem consegue ser pai, professor, presidente, escritor, esposa, filho? Somos incapazes de assumir nossa função, ou será que esses papéis não têm mais porque? O filme, adulto, deixa questões abertas, não as responde. É o melhor filme do ano. Mais verdadeiro que O Artista, muito mais profundo que Os Descendentes, e incomensurávelmente mais complexo e honesto que todas as tolices "de arte" para crianças grandes e mimadas. Homens de verdade no cinema...nem tudo está perdido afinal.... Nota 8.
DAZED AND CONFUSED de Richard Linklater com Mathew McCornaghy, Ben Affleck, Parker Posey, Milla Jovovich.
É um filme considerado clássico na América. Tarantino chega a dar-lhe o posto de número 10 entre seus favoritos. Mas em todo o mundo ele é ignorado. Feito em 1993, sem grana nenhuma e com atores então desconhecidos, ele não tem um "motivo". O que vemos é um filme quase que improvisado, sem uma só fala que seja relevante. É 1976 e estamos no último dia de aula. Os alunos fumam muita maconha, bebem , batem em calouros, namoram e vão a festa. Nada é muito forte, nada de muito dramático acontece. Não é uma comédia, muito menos um drama. O que vemos são os atores, ruins em sua maioria, se comportando como jovens "comuns". E nem mesmo um personagem central existe. Mas aí vem a surpresa. O filme consegue passar a sensação de verdade. Aquilo que vemos é realmente "como era". Não são garotos especiais e nem aquele é um lugar especial. Acabamos gostando de estar lá. Linklater foi esperto, usou músicas apenas daquele ano específico. Excelentes. Mathew esbanja carisma, faz um conquistador mais velho, de botas, voz de Marlon Brando e bigode à Redford. É considerado um grande papel. Os maconheiros convencem muito. E as meninas se parecem realmente com meninas de escola. Nota 7.
Há uma crença, que compartilho, de que roteiristas dão bons diretores, editores se tornam bons diretores, até atores podem ser bons diretores, mas diretores de fotografia não se tornam bons diretores. Acostumados a ver filmes como apenas luz e sombra, se esquecem de ritmo e de história. Jack Clayton pode ter sido um dos 3 ou 4 maiores diretores de fotografia, mas como cineasta ele nada apresenta. Este filme é pavoroso! Uma mixórdia que mistura vikings com árabes e a busca de tesouro. Elenco perdido, roteiro cheio de furos, aventura chatíssima. Fuja!!! Nota Zero.
O MUNDO ME ODEIA de Ida Lupino com Edmond O'Brien, Frank Lovejoy e William Talman
Godard disse em seus bons tempos que para se fazer um filme bastava uma arma e uma garota. Depois ele complicou tudo e passou a crer que era preciso uma tese e uma filosofia. Aqui temos uma arma e uma garota na direção. Ida Lupino foi uma diretora num tempo em que diretoras eram olhadas como coisa suspeita. O filme, barato, que fala de bandido que corre da policia em carro com dois reféns, tem clima, emoção, inventividade. É uma pequena jóia noir feita com cenários naturais e pouquíssimo dinheiro. Uma quase obra-prima do filme B. Nota 7.
THE WAGON MASTER de John Ford com Ben Johnson e Ward Bond
Ford resolve filmar um bando de carroças crusando o deserto. Para isso usa uma história de mórmons que são conduzidos por cowboys até a terra onde viverão. Mas é tudo desculpa, o que Ford quer é filmar cavalos, pó, sol e rochas. E vemos por duas horas alegres pioneiros conduzindo sua caravana. O clima nas filmagens foi de pura amizade. Acampados, longe de Hollywood, Ford podia se dar ao luxo de filmar o quase nada. Nota 7.
DRIVE de Nicolas Winding Refn com Ryan Gosling, Carey Mulligan e Albert Brooks
Criticos muito desavisados falaram em Tarantino. Será que esses caras viram algum dia um filme de Quentin? Este em nada lembra o grande cineasta americano. Trata-se de um filme bastante desequilibrado. Temos um roteiro de uma pobreza constrangedora, e ao mesmo tempo uma direção forte, que jamais se deixa acomodar. Na verdade seria um filme sobre o vazio, o vácuo na cabeça de um driver. Bastante aparentado aliás, com um certo filme genial de Scorsese, ele nos permite fazer um paralelo: o driver de 1975 seria exagerado, paranóico, saturado de energia demais. Aqui, o driver 2012 é vazio, sem nada em seu interior, quase catatônico. Um amigo lembrou de Lynch vendo este filme. Não. Lynch é cheio de simbolismos, de pistas, labirintos cheios de sentido, aqui nada temos, o que vemos é tudo o que existe. O filme é um tipo de filme dos anos 80 ( a trilha de Cliff Martinez, que foi guitarrista de Robert Plant, é hiper 80's, uma delicia brega ), com o estilo sonado e oco dos anos 2010. Não é um filme satisfatório. Quando pegamos a pista da influência de Taxi Driver ele se esvazia. Mas o diretor tem pegada, sabe enquadrar e conduzir cada ação em seu tempo certo. Não há uma só cena longa ou curta demais. Mas o roteiro....que mancada..... Nota 6.
HABEMUS PAPAM de Nanni Moretti com Michel Picolli
Graças aos Céus!!!!! Temos um filme com gente de verdade!!!! Aqui há humanidade e não apenas um chavão psiquiátrico. As pessoas falam, sentem, sofrem, se perdem e, que bom, elas apresentam voz e rosto de pessoas comuns. Penso que o público irá até estranhar. Se desacostumaram a ver gente nas telas de cinema. O roteiro, brilhante, fala de um papa que sente pavor em ser papa. Um psicólogo vem o tratar. Moretti, socialista e ateu, não fala sobre a igreja. O que ele exibe é a inadaptação a um papel. Quem em nosso mundo, de gente tão pequena, pode ser um papa? A mensagem é profunda e belíssima: quem consegue hoje seguir o papel que se espera que seja seguido? Quem consegue ser pai, professor, presidente, escritor, esposa, filho? Somos incapazes de assumir nossa função, ou será que esses papéis não têm mais porque? O filme, adulto, deixa questões abertas, não as responde. É o melhor filme do ano. Mais verdadeiro que O Artista, muito mais profundo que Os Descendentes, e incomensurávelmente mais complexo e honesto que todas as tolices "de arte" para crianças grandes e mimadas. Homens de verdade no cinema...nem tudo está perdido afinal.... Nota 8.
DAZED AND CONFUSED de Richard Linklater com Mathew McCornaghy, Ben Affleck, Parker Posey, Milla Jovovich.
É um filme considerado clássico na América. Tarantino chega a dar-lhe o posto de número 10 entre seus favoritos. Mas em todo o mundo ele é ignorado. Feito em 1993, sem grana nenhuma e com atores então desconhecidos, ele não tem um "motivo". O que vemos é um filme quase que improvisado, sem uma só fala que seja relevante. É 1976 e estamos no último dia de aula. Os alunos fumam muita maconha, bebem , batem em calouros, namoram e vão a festa. Nada é muito forte, nada de muito dramático acontece. Não é uma comédia, muito menos um drama. O que vemos são os atores, ruins em sua maioria, se comportando como jovens "comuns". E nem mesmo um personagem central existe. Mas aí vem a surpresa. O filme consegue passar a sensação de verdade. Aquilo que vemos é realmente "como era". Não são garotos especiais e nem aquele é um lugar especial. Acabamos gostando de estar lá. Linklater foi esperto, usou músicas apenas daquele ano específico. Excelentes. Mathew esbanja carisma, faz um conquistador mais velho, de botas, voz de Marlon Brando e bigode à Redford. É considerado um grande papel. Os maconheiros convencem muito. E as meninas se parecem realmente com meninas de escola. Nota 7.