Assisti SHAME de McQueen. Mas não é especificamente dele que vou falar. Ou é?
Ontem Calligaris matou a pau. Conseguiu dizer o que me incomoda nesse tipo de filme. Por detrás de sua nudez e pseudo-ousadia, vive uma mente conservadora, medrosa, preconceituosa. Vamos os fatos.
Leio que antes de rodar o filme, McQueen fez todo o cast assistir e estudar O ÚLTIMO TANGO EM PARIS. Exemplifico aí a diferença. Brando transa todo o filme com Schneider. Ele é um homem em crise. Vazio, culpado, envelhecendo. Mas o filme jamais diz que ele está "errado". Muito menos que ele tem uma doença e precisa ser "salvo". Ele é um Homem em crise. Por pensar, por sentir, enfim, ele vive a crise de viver.
No cinema de "arte" atual isso não mais existe. Em sua maioria ( há excessões ), eles partem da ideia de que o que se está mostrando é um outsider, um doente ou um viciado. Jamais o personagem é mostrado como gente como a gente. São filmes em que a doença impera. Ora!!!!! É como se Hitchcock mostrasse James Stewart em Vertigo como um neurótico. Ele é. Mas o filme nunca lhe dá esse rótulo. Ele é como eu e voce. Apenas falho. Bergman mostrou pessoas em crise profunda sempre. E nunca moralizou. Elas não precisavam de remédios, de hospital ou de prisão. Talvez precisassem de Deus, de filosofia ou de amor. Acima de tudo Bergman sabia e demonstrava: não as julguemos, elas não são extraordinárias, elas são como nós.
Calligaris elegantemente evita falar o mais óbvio: a psicologia se foi, o mundo é da psiquiatria.
Bergman, como Fellini ou Antonioni, é do tempo de Freud, Jung e Lacan. Eles dialogam, não dão diagnósticos. Seguem os personagens sem os rotular. Observam. Sabem que eles são nós.
Filmes como Shame são psiquiátricos. O cara é um doido e cabe a nós sentir pena ou raiva, e ter piedade. Tudo é reduzido ao sintoma, ao ato esquisito, ao fora do padrão. Não se dá a menor chance ao personagem, antes do filme começar o diagnóstico já foi dado.
Feito por Truffaut ele seria um homem sofrido, mas ao mesmo tempo sentindo prazer naquilo que faz. A complexidade da vida, o certo misturado ao errado, o bom ao mau. Feito por McQueen ele é apenas doente. E ponto final.
Ontem Calligaris matou a pau. Conseguiu dizer o que me incomoda nesse tipo de filme. Por detrás de sua nudez e pseudo-ousadia, vive uma mente conservadora, medrosa, preconceituosa. Vamos os fatos.
Leio que antes de rodar o filme, McQueen fez todo o cast assistir e estudar O ÚLTIMO TANGO EM PARIS. Exemplifico aí a diferença. Brando transa todo o filme com Schneider. Ele é um homem em crise. Vazio, culpado, envelhecendo. Mas o filme jamais diz que ele está "errado". Muito menos que ele tem uma doença e precisa ser "salvo". Ele é um Homem em crise. Por pensar, por sentir, enfim, ele vive a crise de viver.
No cinema de "arte" atual isso não mais existe. Em sua maioria ( há excessões ), eles partem da ideia de que o que se está mostrando é um outsider, um doente ou um viciado. Jamais o personagem é mostrado como gente como a gente. São filmes em que a doença impera. Ora!!!!! É como se Hitchcock mostrasse James Stewart em Vertigo como um neurótico. Ele é. Mas o filme nunca lhe dá esse rótulo. Ele é como eu e voce. Apenas falho. Bergman mostrou pessoas em crise profunda sempre. E nunca moralizou. Elas não precisavam de remédios, de hospital ou de prisão. Talvez precisassem de Deus, de filosofia ou de amor. Acima de tudo Bergman sabia e demonstrava: não as julguemos, elas não são extraordinárias, elas são como nós.
Calligaris elegantemente evita falar o mais óbvio: a psicologia se foi, o mundo é da psiquiatria.
Bergman, como Fellini ou Antonioni, é do tempo de Freud, Jung e Lacan. Eles dialogam, não dão diagnósticos. Seguem os personagens sem os rotular. Observam. Sabem que eles são nós.
Filmes como Shame são psiquiátricos. O cara é um doido e cabe a nós sentir pena ou raiva, e ter piedade. Tudo é reduzido ao sintoma, ao ato esquisito, ao fora do padrão. Não se dá a menor chance ao personagem, antes do filme começar o diagnóstico já foi dado.
Feito por Truffaut ele seria um homem sofrido, mas ao mesmo tempo sentindo prazer naquilo que faz. A complexidade da vida, o certo misturado ao errado, o bom ao mau. Feito por McQueen ele é apenas doente. E ponto final.