SE A TELEVISÃO TE DEIXOU BURRO, IMAGINE TEU PC!

Como a vida é enredada acontece uma coisa: após escrever o texto daí de baixo, sobre a linguagem cerebral, me deparo de noite, em meu trabalho, com uma revista de poucos meses atrás, que eu não conhecia, trazendo um artigo sobre a influência da internet sobre os cérebros. O fato que o artigo diz é: nossa memória e nossa atenção estão indo pro espaço. Não retemos mais nada, tudo fica registrado no arquivo digital; não nos concentramos mais, nossa mente, hiper-excitada, precisa virar páginas sem parar.
É lógico que os otimistas bobitos logo lembram que os pessimistas chatos também gritaram contra a TV, e outras invenções. Acho fácil responder a esses sorridentes fofos: a TV mudou o mundo, destruiu a conversa da sala, a cadeira na calçada, a hora do jantar. Não foi pouca coisa. E a longo prazo aumentou muito o consumo, o desejo de ser "televisivo" e a linguagem de todas as artes.
Mas o principal é que se falarei que a internet muda nosso cérebro é porque sinto isso em mim mesmo.
Leio muito menos depois da internet. Eu lia com calma e profundamente. Hoje leio com ansiedade e de forma mais superficial. Luto para que minha atenção não se desfaça.
Tenho menos paciência com filmes. Procuro ser fisgado por eles em dez ou quinze minutos. Continuo os assisitindo inteiros, claro, mas sinto que meu envolvimento com eles, minha capacidade de penetrar dentro deles diminuiu. Devo dizer que nesse ponto não sei se devo essa queda de amor ao cinema ao fato de estar vendo mais filmes atuais ou a internet.
O que sei é que toda vez que olho para esta telinha me sinto nervoso. Ela me excita e fico perdendo tempo com tolices. Abro o PC com a ideia de escrever algo intimo, profundo, sublime, e após ler as coisas do facebook, perco totalmente o desejo de ser intimo, sublime e profundo.
Um cientista brasileiro diz que nosso cérebro é como uma orquestra. Ao tocar cada instrumento nós o recriamos. Ou seja, se bem tocado afinamos nosso violino, nosso piano; se mal tocado transformamos o violino em apito e o piano em bumbo. Se o ponto cerebral de nossa atenção for diminuído essa área do cérebro se transformará em outra coisa. Talvez seja tomada pelo instinto sexual ou pela vontade de poder, ou o que for. O mais trágico é que as crianças que nascem neste mundo já aprenderão a ignorar a memória intima e a viver em mundo super-excitado. Várias conexões cerebrais se transformarão. Em que? Depressão? Agressividade?
Um livro te obriga a parar, relaxar, se concentrar, buscar lembranças, persistir. É um prazer muito mais trabalhoso, e ao mesmo tempo, muito mais profundo. Tem algo de ritualistico. A internet pede ação, velocidade, dispersão em multi-interesses. O cérebro não se concentra e se auto-examina, ele salta para fora e se ignora. Um tipo de atividade passiva. Voce clica e se deixa ir.
Meus alunos ficam sete horas em rede e acham normal. Não vêem mais TV, quanto mais rádio, cinema ou livros?
Não sou contra a internet, apenas penso que ela tem o perigo do vicio. Como o vinho, é ótima em uma dose, mortal aos litros.