Há no mercado editorial do Brasil uma irritante falta de livros de viagens em catálogo. Não estou falando de guias de viagem, falo de relatos sobre viagens, experiências on the road. Frequento muitas livrarias e alguns sebos e posso dizer que no verão, quando me dá vontade de ler esse tipo de livro, preciso recorrer aos meus velhos volumes e reler o que já conheço. O que na verdade é sempre um prazer.
Talvez o mais heróico de todos que já li seja o relato da expedição de Shackleton ao Polo Sul. A bordo do Endurance, eles ficaram presos um ano e meio no gelo, sem contato com ninguém de fora, e com um detalhe: ninguém morreu, um mérito do capitão e da união da equipe. É uma aventura de arrepiar, eles inclusive tiveram de comer os cães. O livro que tenho tem fotos maravilhosas da viagem, da tripulação, do gelo infindável. O que mais impressiona são as faces daqueles homens: duros, determinados.
Outro que me marcou é o livro de Thor Heyerdahl, sobre sua viagem a bordo de um tipo de jangada de juncos pelo Pacífico. Esse norueguês realizou essa travessia para provar ser possível os índios da América terem vindo das ilhas dos mares do sul. Então a gente acompanha esse herói em sua navegação solitária, o Pacífico o desafiando e seu barco que mais se parece com uma cabana de folhas.
Peter Fleming tem um livro maravilhoso em que ele vai a região do Mato-Grosso para tentar encontrar os restos do capitão Fawcett. Fawcett era um inglês que desapareceu na região em fins do século XIX. Fleming parte em sua busca na década de 1920. É uma história absorvente. Voce não consegue largar o livro. Como também não larga o grande livro de Edward Rice sobre Sir Richard Burton ( não é o ator ), um inglês de espirito complexo, estranho, e com uma das vidas mais aventurosas já vividas neste planeta.
O livro é a bio desse homem, mas como o que Burton mais fez foi viajar, o livro é do gênero viagem e aventura. Burton falava 40 linguas e dialetos, foi cônsul da Inglaterra em Santos ( ele odiou a cidade de Santos. Achou-a feia, suja, com gente estúpida ), e desbravou Oriente e Africa. Foi o primeiro europeu a ver um pigmeu, o primeiro a mapear a região do lago Vitória, o primeiro em dezenas de empreendimentos. Lutou em guerras tribais ( ele tinha uma cicatriz no rosto feita por uma lança que lhe atravessou a cara de bochecha a bochecha ). Quase morreu de inúmeras doenças tropicais e era dado a crises de melancolia. Posso dizer que raras personalidades, de ficção ou não, se comparam a Burton. É um dos melhores livros que li, em que gênero for.
E não posso esquecer dos livros de Saint-Exupéry, aquele mesmo, do Pequeno Principe, que foi piloto de avião nos anos 30, e tem dois livros maravilhosos, um em que ele descreve a instalação da linha de correio aéreo entre Paris-Rio-Buenos Aires ( cada vôo era um risco de vida ), e outro sobre seus vôos sobre a Africa do Norte, esse livro uma verdadeira obra-prima existencial.
Mais recentemente conheci os romances de Bruce Chatwin, que infelizmente morreu muito cedo e que escreveu alguns livros soberbos sobre suas viagens solitárias. Há Le Clézio, que às vezes escreve sobre a vida em movimento e Paul Theroux, que está sempre na ansiedade de relatar uma vida na estrada. E é óbvio, os muito bons livros de Amyr Klink livros que devorei nos verões de 91,92.
Mas eu quero mais. Quero os relatos sobre as ilhas do Hawaii escritos em fins do século XIX, quero as expedições do Polo Norte, quero a conquista do Oriente. Onde os encontrar? Essas sagas sublimes de um planeta ainda por conhecer, de rotas sendo ainda desenhadas, de possibilidades sem fim.
Nada é melhor para se ler no dolce far niente do verão.
Talvez o mais heróico de todos que já li seja o relato da expedição de Shackleton ao Polo Sul. A bordo do Endurance, eles ficaram presos um ano e meio no gelo, sem contato com ninguém de fora, e com um detalhe: ninguém morreu, um mérito do capitão e da união da equipe. É uma aventura de arrepiar, eles inclusive tiveram de comer os cães. O livro que tenho tem fotos maravilhosas da viagem, da tripulação, do gelo infindável. O que mais impressiona são as faces daqueles homens: duros, determinados.
Outro que me marcou é o livro de Thor Heyerdahl, sobre sua viagem a bordo de um tipo de jangada de juncos pelo Pacífico. Esse norueguês realizou essa travessia para provar ser possível os índios da América terem vindo das ilhas dos mares do sul. Então a gente acompanha esse herói em sua navegação solitária, o Pacífico o desafiando e seu barco que mais se parece com uma cabana de folhas.
Peter Fleming tem um livro maravilhoso em que ele vai a região do Mato-Grosso para tentar encontrar os restos do capitão Fawcett. Fawcett era um inglês que desapareceu na região em fins do século XIX. Fleming parte em sua busca na década de 1920. É uma história absorvente. Voce não consegue largar o livro. Como também não larga o grande livro de Edward Rice sobre Sir Richard Burton ( não é o ator ), um inglês de espirito complexo, estranho, e com uma das vidas mais aventurosas já vividas neste planeta.
O livro é a bio desse homem, mas como o que Burton mais fez foi viajar, o livro é do gênero viagem e aventura. Burton falava 40 linguas e dialetos, foi cônsul da Inglaterra em Santos ( ele odiou a cidade de Santos. Achou-a feia, suja, com gente estúpida ), e desbravou Oriente e Africa. Foi o primeiro europeu a ver um pigmeu, o primeiro a mapear a região do lago Vitória, o primeiro em dezenas de empreendimentos. Lutou em guerras tribais ( ele tinha uma cicatriz no rosto feita por uma lança que lhe atravessou a cara de bochecha a bochecha ). Quase morreu de inúmeras doenças tropicais e era dado a crises de melancolia. Posso dizer que raras personalidades, de ficção ou não, se comparam a Burton. É um dos melhores livros que li, em que gênero for.
E não posso esquecer dos livros de Saint-Exupéry, aquele mesmo, do Pequeno Principe, que foi piloto de avião nos anos 30, e tem dois livros maravilhosos, um em que ele descreve a instalação da linha de correio aéreo entre Paris-Rio-Buenos Aires ( cada vôo era um risco de vida ), e outro sobre seus vôos sobre a Africa do Norte, esse livro uma verdadeira obra-prima existencial.
Mais recentemente conheci os romances de Bruce Chatwin, que infelizmente morreu muito cedo e que escreveu alguns livros soberbos sobre suas viagens solitárias. Há Le Clézio, que às vezes escreve sobre a vida em movimento e Paul Theroux, que está sempre na ansiedade de relatar uma vida na estrada. E é óbvio, os muito bons livros de Amyr Klink livros que devorei nos verões de 91,92.
Mas eu quero mais. Quero os relatos sobre as ilhas do Hawaii escritos em fins do século XIX, quero as expedições do Polo Norte, quero a conquista do Oriente. Onde os encontrar? Essas sagas sublimes de um planeta ainda por conhecer, de rotas sendo ainda desenhadas, de possibilidades sem fim.
Nada é melhor para se ler no dolce far niente do verão.