Ainda não terminei de ler o livro, então não é especificamente dele que vou falar. O que falarei agora é de um detalhe visto numa fala de Martin. Ele conta de sua "fase impressionável". É a fase da vida em que nos deixamos tocar profundamente pelas coisas, em que não criamos ainda uma barreira crítica. Época em que amamos filmes, músicas e pessoas com uma paixão sem reflexão, atirada, dada, completamente inteira.
Nessa fase da vida ( entre 11 e 13 anos ), Scorsese ia muito ao cinema com seu pai e via filmes na Tv também. Faroestes e épicos sobre os tempos antigos ( Roma, Egito, Grécia ), esses foram os filmes que lhe marcaram a alma. E também "O DIA EM QUE A TERRA PAROU", de Wise. É um capítulo lindo, e Scorsese diz que até hoje é apaixonado pelos westerns ( John Ford é seu diretor favorito ), e por filmes sobre os tempos romanos.
Eu já lera, tempos atrás, um psicólogo falar sobre esse assunto. Que na verdade nosso gosto estético é todo definido nessa idade, e que tudo aquilo que nos apaixona depois paga tributo àquela época. Bem...eu não ia muito ao cinema aos 11/13 anos. Mas os poucos filmes que vi se tornaram um tipo de parâmetro pelo qual comparo tudo aquilo que vejo. Claro que de forma instintiva.
Uma reprise de Pinóquio, no imenso cine Astor. A sensação de sair do sol forte da rua, do barulho e do calor, e de repente entrar num ambiente sagrado ( Schickel compara salas antigas de cinema com as catedrais ), um ambiente escuro, silencioso e frio. O veludo da cortina cobrindo a tela e o lanterninha de uniforme azul me levando até meu lugar. O gongo soa e as cortinas se abrem. A cor. O colorido dos vermelhos e dos azuis, a imensidão da imagem. Senti vertigem, quase medo daquele universo tão vasto. Esse mundo criado pela imaginação, essa festa de cor e de cenários, o movimento súbito e a sensação de estar em presença de outra realidade, é tudo isso que sempre procuro num GRANDE filme ( e às vezes encontro em SAPATINHOS VERMELHOS, MY FAIR LADY, ERA UMA VEZ NO OESTE, LAWRENCE DA ARÁBIA, RAN ). Nesse tempo também assisti no cinema ANNIE HALL, JULIA e BANZÉ NO OESTE. Quando os vi, ao contrário de Pinóquio, já havia em mim a consciência do cinema como arte. Pinóquio foi visto aos 10 anos, Annie e Julia aos 13. Eu lia críticas de jornal, sabia quem eram Woody Allen e Fred Zinnemann. E de Annie eu peguei a liberdade, a sensação de que num filme tudo poderia acontecer, que o diretor podia fazer aquilo que desejasse fazer. E de Julia, que foi uma experiência muito forte, eu senti a poesia da imagem, a beleza plástica que um filme pode ter. E me peguei querendo ser Jason Robards, querendo escrever como ele, aconselhar como ele, ter um bangalô igual o dele.
Será que é isso que me norteia? Será que eu procuro a emoção que tive com esses filmes? E muitos outros, vistos na TV. A sensação de medo que vivi com OS PÁSSAROS na velha Tupi, VIAGEM AO CENTRO DA TERRA com James Mason, em Sessões da Tarde de chuva e frio. As comédias de Jerry Lewis, os filmes medievais, Hatari de Hawks, filmes de guerra de John Ford e filmes de monstros de Ray Harryhausen. Eu me encantava, mergulhava naquilo, sentia tudo. Será esse o meu padrão?
E os primeiros discos: Elton John, Alice Cooper, Rolling Stones, Stevie Wonder, Led Zeppelin, David Bowie, Rod Stewart, Wings, Black Sabbath e Deep Purple. O rádio onde toda manhã eu escutava Secos e Molhados, Novos Baianos, Tim Maia e Jorge Ben. Minha mãe ouvindo Roberto Carlos sem parar e meu pai com bandas marciais. Shows de Tom Jones na Tv, e minha maior paixão da vida inteira: OS MONKEES. Nada me tira da cabeça a ideia de que meu gosto musical foi feito pelos Monkees ( e por Hardy Boys, Gatolândia, Familia Dó Ré Mi, Archies, Sabrina, Josie e as Gatinhas ), bandas de cartoons que passavam na TV. O que entendo por musica pop está toda aí.
Mas na verdade, o que mais me deliciava, eram os filmes que eu via com minha tia. Ela era completamente americanizada, adorava e delirava com tudo que fosse BEEEM americano. E com ela eu via filmes de Doris Day, de Tony Curtis, Rock Hudson e musicais, musicais que passavam de tarde na tv Cultura, Astaire e Rita Hayworth... Ah... mas havia Os 3 Patetas na Record e O Gordo e o Magro na Tupi....
Scorsese diz bem, voce não via apenas um filme ( ou escutava um disco ), voce queria ser aquele cara, e conseguia ser.
Pra sempre.
Nessa fase da vida ( entre 11 e 13 anos ), Scorsese ia muito ao cinema com seu pai e via filmes na Tv também. Faroestes e épicos sobre os tempos antigos ( Roma, Egito, Grécia ), esses foram os filmes que lhe marcaram a alma. E também "O DIA EM QUE A TERRA PAROU", de Wise. É um capítulo lindo, e Scorsese diz que até hoje é apaixonado pelos westerns ( John Ford é seu diretor favorito ), e por filmes sobre os tempos romanos.
Eu já lera, tempos atrás, um psicólogo falar sobre esse assunto. Que na verdade nosso gosto estético é todo definido nessa idade, e que tudo aquilo que nos apaixona depois paga tributo àquela época. Bem...eu não ia muito ao cinema aos 11/13 anos. Mas os poucos filmes que vi se tornaram um tipo de parâmetro pelo qual comparo tudo aquilo que vejo. Claro que de forma instintiva.
Uma reprise de Pinóquio, no imenso cine Astor. A sensação de sair do sol forte da rua, do barulho e do calor, e de repente entrar num ambiente sagrado ( Schickel compara salas antigas de cinema com as catedrais ), um ambiente escuro, silencioso e frio. O veludo da cortina cobrindo a tela e o lanterninha de uniforme azul me levando até meu lugar. O gongo soa e as cortinas se abrem. A cor. O colorido dos vermelhos e dos azuis, a imensidão da imagem. Senti vertigem, quase medo daquele universo tão vasto. Esse mundo criado pela imaginação, essa festa de cor e de cenários, o movimento súbito e a sensação de estar em presença de outra realidade, é tudo isso que sempre procuro num GRANDE filme ( e às vezes encontro em SAPATINHOS VERMELHOS, MY FAIR LADY, ERA UMA VEZ NO OESTE, LAWRENCE DA ARÁBIA, RAN ). Nesse tempo também assisti no cinema ANNIE HALL, JULIA e BANZÉ NO OESTE. Quando os vi, ao contrário de Pinóquio, já havia em mim a consciência do cinema como arte. Pinóquio foi visto aos 10 anos, Annie e Julia aos 13. Eu lia críticas de jornal, sabia quem eram Woody Allen e Fred Zinnemann. E de Annie eu peguei a liberdade, a sensação de que num filme tudo poderia acontecer, que o diretor podia fazer aquilo que desejasse fazer. E de Julia, que foi uma experiência muito forte, eu senti a poesia da imagem, a beleza plástica que um filme pode ter. E me peguei querendo ser Jason Robards, querendo escrever como ele, aconselhar como ele, ter um bangalô igual o dele.
Será que é isso que me norteia? Será que eu procuro a emoção que tive com esses filmes? E muitos outros, vistos na TV. A sensação de medo que vivi com OS PÁSSAROS na velha Tupi, VIAGEM AO CENTRO DA TERRA com James Mason, em Sessões da Tarde de chuva e frio. As comédias de Jerry Lewis, os filmes medievais, Hatari de Hawks, filmes de guerra de John Ford e filmes de monstros de Ray Harryhausen. Eu me encantava, mergulhava naquilo, sentia tudo. Será esse o meu padrão?
E os primeiros discos: Elton John, Alice Cooper, Rolling Stones, Stevie Wonder, Led Zeppelin, David Bowie, Rod Stewart, Wings, Black Sabbath e Deep Purple. O rádio onde toda manhã eu escutava Secos e Molhados, Novos Baianos, Tim Maia e Jorge Ben. Minha mãe ouvindo Roberto Carlos sem parar e meu pai com bandas marciais. Shows de Tom Jones na Tv, e minha maior paixão da vida inteira: OS MONKEES. Nada me tira da cabeça a ideia de que meu gosto musical foi feito pelos Monkees ( e por Hardy Boys, Gatolândia, Familia Dó Ré Mi, Archies, Sabrina, Josie e as Gatinhas ), bandas de cartoons que passavam na TV. O que entendo por musica pop está toda aí.
Mas na verdade, o que mais me deliciava, eram os filmes que eu via com minha tia. Ela era completamente americanizada, adorava e delirava com tudo que fosse BEEEM americano. E com ela eu via filmes de Doris Day, de Tony Curtis, Rock Hudson e musicais, musicais que passavam de tarde na tv Cultura, Astaire e Rita Hayworth... Ah... mas havia Os 3 Patetas na Record e O Gordo e o Magro na Tupi....
Scorsese diz bem, voce não via apenas um filme ( ou escutava um disco ), voce queria ser aquele cara, e conseguia ser.
Pra sempre.