FRANK SINATRA E A ARTE DE VIVER- BILL ZEHME ( NÃO INDICADO A MENINOS SENSÍVEIS, MENINAS MODERNETTES E MOÇOS INTELIGENTINHOS )

   Não é uma biografia. Apesar que até pode servir como uma. Na verdade é exatamente aquilo que o título diz, Frank Sinatra dá conselhos sobre a arte de viver bem. E Frank pode se dar esse direito, ele viveu, ele amou muito, brigou muito, errou demais e deu sempre a volta por cima. Frank dando conselhos é muito melhor que a maioria dos filósofos e psicólogos, ele fez, não leu e decorou.
   Amizades, festas, bebidas, roupas, casamentos, mulheres, familia; esses os assuntos sobre os quais ele mais se detém. Fala de forma direta, sem enrolação. Muita gíria, muita malandragem.
   Fidelidade absoluta aos amigos. Sinatra era famoso por ajudar amigos, com dinheiro, com trabalho, com apoio moral. As melhores histórias e as melhores frases do livro estão nesses capítulos. Dean Martin, Sammy Davis Jr, Bogart, Shirley MacLaine, Joey Bishop. Há ótimas histórias sobre todos eles. Engraçadas, algumas bem tristes. Zehme conta que em 1949, na época de azar, os amigos viravam a cara para ele. Isso o marcou tanto que ele nunca mais pediu ajuda a ninguém e passou a oferecer ajuda a quem o merecesse. Frank Sinatra nunca perdeu seu jeito siciliano, seu modo de falar dos amigos é o modo caloroso, familiar, honroso dos sicilianos, modo que também tem ares de máfia. E daí?
   Jack Daniels, muito Jack Daniels. Sinatra diz beber uma garrafa por dia. Todo mundo sabe que é mentira. Na verdade ele "usava" uma garrafa por dia, enchia seu copo, dava dois goles e o deixava num canto. Enchia outro, dois goles, abandono. Isso lhe dava a fama de bom bebedor, que é o que ele queria. Cigarros ele nunca tragava. Eram parte do show. Sempre a mão, mas nunca tragados. Mas mesmo assim, Sinatra sabe o que fala, entende de Jack Daniels, ensina drinks, adora vodka, e principalmente ele sabe acender o cigarro de uma dama. Um gesto fluido, leve, rápido, sem afobação.
   Sinatra é um homem a moda antiga. Para ele nenhuma mulher deve ser tratada como uma qualquer. Todas eram "mamas" em potencial. deviam ser bem alisadas, elogiadas, protegidas e nunca jamais agredidas. Dean Martin diz que para Frank até as prostitutas não eram putas. Sinatra lhes dava presentes, conselhos, ouvidos, ombros e sexo. Mas não se vangloriava de suas proesas. Era um cavalheiro.
   A vaidade era imensa. Foi filho único e com 14 anos já tinha oito ternos. Frank Sinatra adora a limpeza, a roupa certa, o lenço no bolso, a calça bem passada, a elegância discreta, correta, perfeita. Ele foi guru de moda para milhões de homens ( hoje é.... Jay Z ? ), homens que copiavam o chapéu que ele usava, a gravata, o sapato. Homens que sonhavam em achar sua Ava Gardner.
   Ava Gardner destruiu Sinatra. Foi a mulher que o humilhou, que fugia, que não baixava a guarda nunca. Ele, quando a perdeu de vez, pirou. Perdeu o rumo, afundou, quase morreu. Quando retorna a vida, lança uma montanha de lps que são a educação sentimental de todo homem que merece ter culhões. Lançando até quatro por ano ( sim, 48 faixas todo ano ), ele teve a esperteza de variar. Um Lp alegre, um triste; ou seja, um para dançar com a dama, outro para chorar a falta dessa dama. Eu conheço todos. Os discos tristes são a coisa mais deprimente que já ouvi. Quem pensa que Nick Drake ou Leonard Cohen é o máximo em tristeza nunca escutou " I'm A Fool for Love You". Por outro lado, os discos pra cima são a coisa mais alegre, chic, viril e sexy que já ouvi. O homem era foda!
   As festas são do tipo que começam sexta-feira em Los Angeles e terminam na segunda em Londres. Frank era dono de 3 jatos e era comum que ao escutar de uma dama que ela adorava lagostas de um certo restaurante em Paris, mandar um avião buscá-las e as oferecer um dia depois. Assim como oferecia advogados, guarda-costas, casa, para quem precisasse.
   Ele era intenso. Se era amigo, era um irmão, se era irmão, era Frank Sinatra. Não dormia, tinha medo de perder alguma ação. Logo enjoava das coisas, então partia para alguma nova coisa. Sempre cercado por amigos, odiava ficar só. Tinha de falar, de se mover, de se exibir. Era o que hoje chamamos de "O Cara".
   Mas não há nada parecido com Sinatra hoje. Não falo como artista, falo como homem. O tipo de homem-Sinatra foi morto pelo feminismo, pelos hippies, pelo excesso de drogas, pelo relativismo. Ele não chorava em público, não se lamentava quando devia rir, nunca baixava a guarda. Suas lágrimas, suas lamentações, suas loucuras eram exibidas em casa, para dois ou três amigos, e só. Ele servia seus fãs, respeitava-os, tinha de ser Frank Sinatra. Jamais faria coisas como os astros do rock fazem ou fizeram. No mundo de Frank, "sofrer" por ser famoso era hipocrisia de fracos. E um homem é forte. Ou não tem culhões.
   Nada do que está no livro teria valor não fosse Sinatra quem foi. O Cara, o chefe, o grande boss, o cara que sabe se divertir, que sabe onde ir e quem encontar. O que vestir, o que botar no som, o que comer e beber. Ele sabia viver, e melhor, fazia seus amigos viverem esse "saber" com ele. O cara era foda.
   Uma infinidade de homens tentou ser Frank Sinatra em alguma coisa, em algum momento. Ninguém chegou perto ( quem chegou perto foram aqueles que Sinatra seguiu: Bogart e Dean Martin ), mas tentar já é um mérito.
   Recomendo o livro como excelente leitura de ano-novo. Se voce não for um caso perdido, vai te botar lá em cima. Como deve ser.