EXISTEM PALAVRAS ESQUECIDAS. SOFISTICAÇÃO É UMA DELAS. TELMO MARTINO É O REI DA SOFISTICAÇÃO. LEIA.

   O que voce lê aos 12 anos é muito importante! Mesmo os Cebolinhas e Tio Patinhas de sua cabeceira irão, para sempre, ser parte de sua cabeça. Vivo dizendo que tudo começou com Paulo Francis pra mim. Claro que após Recreio, Zorro, Ilha do Tesouro e Tom Sawyer. E montanhas de Pato Donald e Mad. Mas antes de Francis houve TELMO MARTINO, e a união dos dois deu em Tony Roxy. Meu melhor lado é discípulo da união de Paulo e Telmo. Francis Martino.
   Telmo escrevia no JT. Era uma coluna gigante, onde ele falava daquilo que queria. Mas o que mais fazia era jorrar veneno. Telmo odiava os anos 60 e TUDO o que havia neles. Estávamos em 1977, e pra ele, nada era mais velho que 1968. Mal sabia, pobre Telmo, que 68 seria pra sempre.
   Estou relendo o livro que saiu em 2005, SERPENTE ENCANTADORA, textos de Telmo no JT, 1975/1985. Uma deslumbrante delícia. Existem palavras que saem de circulação. Sofisticado é uma delas. Fazem anos que não leio uma crítica chamando um filme novo de sofisticado. Música então, nunca mais. Pois Telmo é ultra-sofisticado, inteligente e chic, wit e muito esperto.
   Nasceu no Rio, rico e belo, aprendeu francês aos 4 anos, estudou no mesmo colégio que Paulo Francis. Se mandou pra Paris, fazer história da arte, fez direito e jornalismo na USP, morou cinco anos em Londres, e só então começou a trabalhar. Londres é sua paixão. Para Telmo, existe Londres e a periferia. Nós somos, e ele não se cansa de dizer, o interior, a terra virgem. E não pense que pra ele as coisas mudaram, nós não melhoramos, o mundo civilizado é que voltou às cavernas.
   Telmo é do mundo de Noel Coward. Lendo-o eu me sofistiquei. E me surpreendo ao perceber, décadas depois, que várias opiniões e frases que ainda uso são dele. O gosto estético grudou em mim. Para Telmo, como para mim, o auge da cultura POP do século XX é MY FAIR LADY e fim de papo.
   Telmo é sempre Pop. Ele fala de TV, de cine, de livros, de teatro. Da forma como ele escreve, seria hoje processado. Não mede seu humor, dá estocadas, mas sempre com classe. Tem elegância, é britânico, of course.
   Não há como ficar aqui citando frases de Telmo sem desmerecê-lo. Seu texto é cheio de meandros, de frases em francês, de ironia e duplo sentido, de inesperado. Deve ser lido inteiro. Caetano, Chico, Glória Menezes, Tony Ramos, FHC, Sarney, Maria Bethânia, Glauber, Cacá Diegues, Di Cavalcanti, Jorge Amado.... todos recebem suas estocadas movidas a champagne e porcelana azul.
   Fico pensando como seria Telmo escrevendo hoje. Provávelmente não escreveria. Telmo falar de um mundo em que vivem Ivette, Rafinha, Sandy e Mulher Melancia seria como escutar funk do Rio no Convent Garden.