ROBINSON CRUSOE- DANIEL DEFOE, O NASCIMENTO DO HOMEM MODERNO

   Escrevo aqui observações minhas sobre texto de Ian Watt ( e aula de M. Pen ).
   Calvinismo. Ao contrário do catolicismo, aqui o trabalho é um bem e não maldição. O homem deve, quer e pode trabalhar. E se for iluminado, obterá sucesso. Bens materiais. Mas deve ser modesto, jamais ostentar, e mesmo rico, continuar na labuta. A natureza existe para ser domada pela razão e pelo trabalho, civilizada. John Locke diz que o homem progride por ser inquieto, essa inquietude é sua benção. Pascal, francês, é seu oposto: o homem é amaldiçoado pela inquietude, deve procurar a quietude.
   Robinson Crusoe, livro- produto, feito para vender, é lançado em meio ao século XVIII, época da consolidação de Inglaterra e Holanda como modelos do futuro. Robinson é inquieto, e portanto ele viaja. Vai a Africa buscar aventura e a aventura é só uma: enriquecer. Depois vem ao Brasil e fica por aqui ao longo de quatro anos. Faz-se católico ( por interesse ) e latifundiário, negocia escravos. Viaja mais e naufraga nas costas da Venezuela. Encontra sua ilha, isolado por mais de vinte anos.
   Na ilha o que faz Robinson? Lastima o destino? Chora sua solidão? Fosse latino, provávelmente. Mas ele trabalha, cria e é absolutamente feliz. Eis nosso nascimento: ilhados em trabalho, felizes em ganhar o dia. Felizes?
   Robinson faz casa, faz encanamento, faz ferramenta, arma e plantação. Mas acima de tudo ele domina a ilha, domina a matéria, se faz dono do mundo. Ele é um INDIVIDUALISTA.
   Tem um Deus, afinal é cristão, mas esse Deus é visto como algo seu, um ente com quem ele dialoga. Sua ética é dada pela sua consciência, Robinson fala consigo mesmo, mede seus atos, e sempre vai em frente, nada pode o deter. Essa ética se molda a sua ambição.
   No mundo medieval, Robinson Crusoe seria impossível. Sua aventura deveria ser em grupo, sua ilha seria um reino de encantamento, seu Deus seria distante e inflexível, seus laços com familia e cidade fariam dele um poço de saudades. Ele choraria a distancia das mulheres, da igreja, dos amigos, lamentaria as dificuldades, temeria a natureza. Jamais seria feliz na sua ilha ( que nem seria vista como sua ). Mas não aqui, aqui Robinson se adapta, vê oportunidades, progride. Faz ciência.
   Gênese do mundo que herdamos, aventura sobre a vida desterrada, personagem sem laços com ninguém a não ser com sua própria ambição, dono de seu nariz, e habitante de mundo onde o único sentido é ganhar dinheiro e deter poder, não seria ele nosso trisavô? Mergulhado no mundo em que vivia, Defoe criou a bíblia do mundo do capital.