Seneca tentou educar o mais cruel dos imperadores de Roma. Não pode. E perseguido, foi exilado e depois obrigado a cometer o suicidio. Hoje, 2000 anos após sua passagem pela Europa, ler Seneca é ainda de extrema utilidade.
Ele não é um filósofo, pois não cria um sistema. Não é um poeta ou um satirista. Então o que ele é? Um educador. Seneca nos ensina a viver. Com habilidade e muita arte, nos mostra aquilo que importa, mais que isso, faz de nós homens muito mais fortes. Nele não há uma preocupação moral, o que existe é uma preocupação com o valor das coisas e da vida. A pergunta é: viver bem é viver como? Seneca discute o que vale a vida, e dentro da vida, o que é a morte, a fama e o dinheiro. Nos mostra quão tolas são nossas preocupações, mostra a precariedade da vida, a tolice de todo apego, nos coloca na beira do abismo, mas jamais nos dá desespero.
Dizer que Montaigne e Shakespeare adoravam Seneca mostra seu valor. Roma em seu tempo foi o exemplo supremo daquilo que entendemos por O Império. Inglaterra em 1800 e EUA em 1950 são pálidas sombras de Roma. Detentora da civilização, berço do que até hoje nos é familiar, tempo de Juvenal, Marcial, Horácio e deste Seneca, mestre do homem realista, do ser que vive sob tensão e nunca perde a frieza. Criador do moderno herói, do herói distanciado, dono da verdade dura e desencantada, aquele que age sabendo que a ação é vã.
Tenho um amigo que descobriu Seneca via Humphrey Bogart. Esse meu amigo entendeu a ponte que os une, e essa ponte não é o cinismo, é o desencanto. Seneca soube ver o básico, valorizar o valor mínimo, dar peso ao que parecia sem peso. Foi um dos melhores cérebros que já viveram. Lê-lo nesta era de novo barbarismo, época que nega história, honra e hospitalidade, é de fundamental importancia. Mais que isso: é vital.