TEMA DESTE TEMPO

Cada época tem seu tema. Cada época se define por aquilo que lhe é urgente.
Não venha me falar no sentido da vida. Isso é tema de 1880. É coisa de Tolstoi, Dostoievski e Kiekegaard. Nem pense que agora vivemos a época new-age ou tempos de revolução. O tempo revolucionário foi 1776, o tempo da new-age jamais existiu. O que nos define é a violência, nosso ícone é uma arma, nosso engenho é um novo caça e nossos desejos são desejos de poder.
Toda a literatura relevante, hoje, fala de guerra, de fuga, de sangue. Os filmes que valem a pena ( dos últimos vinte anos ) tratam da banalidade da maldade. All you need is love é nostalgia para meninos dos jardins.
Não me venha com dramas familiares, casais descasados, freudianismos e sexo travado. Isso é velho como Tennessee Willians e Ingmar Bergman. A vida interior fechou, o que abriu foi o boteco da carne. O sangue jorra, os tiros cantam, os carros estão blindados, a cidade da bossa-nova é a metrópole da guerra.
Sem religião vale tudo. O medo do pecado nos freava. Sem estado forte pode tudo. A punição nos dava medo. ( Sim, existem ateus bonzinhos. Mas esses têm sua religião própria. Substituem Deus e Cristo por Marx e Poesia ).
Portanto vale tudo. Para quem não tem deus-Platão ou jesus-Hegel. O que guia é o desejo livre, e desejo livre não leva a felicidade e paz, leva à selva. O que eu quero eu quero agora.
Nossa melodia não pode ser melódica. Ela tem batida de metralhadora. Nossa roupa não pode ser elaborada, tem de favorecer a fuga. E nossas casas não são mais jardins hospitaleiros, são casamatas. Flanar como Baudelaire ? Onde ?
Toda arte que não trata da violência é irrelevante, saudosa, falsa, vazia, passadista.
Toda bandinha alegrinha, todo cantorzinho fofo, todo filminho cabeça. Avestruz. Manual de fantasia para bando de avestruzes. Masturbação.
Os melhores filmes deste milênio falam do medo, do sangue, do tiro e da fuga. ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ. A fala final de Tommy Lee define esta era. O resto é supérfluo. E nada é mais supérfluo que Woody Allen.
Não precisamos de um novo Mozart. Precisamos de um esconderijo.