MITOS: PAUL E LOU IN BRAZIL

....e Paul merce cada aplauso recebido e toda homenagem. Pois ele é um sobrevivente, um cara ( raro entre os loucos anos 60/70 ) que nunca perdeu o rumo e que nunca precisou de escândalo para fazer sucesso. Seu êxito se deve a seu talento. Imenso dom de melodista e de arranjador.
Mas há algo que me arrepia em tudo isso. Mrs Vandebilt é minha canção favorita de 1974 ! Eu ficava escutando a rádio Difusora AM esperando entre canções de Bad Company e Elton John, Stylistics e Stevie Wonder, que logo tocasse Mrs Vandebilt. Isso foi no tempo do Corcel e do Opala, da tv a válvula e do compacto simples. É tempo demais !!!!
Assim como eu cantava Hey Jude aos 6 anos de idade, enquanto minhas primas me admiravam, pensando que eu seria um tipo de Mozart do Caxingui. Caceta !!!! E hoje, em meio ao buraco de ozônio, a mocinhas de chapinha e celulares, no burburinho de fãs que choram e não páram de tirar fotos, ele, Paul, continua aqui, cantando Mrs Vandebilt e Hey Jude.
Quem mais ?
Os 60 tiveram um poder absurdo em produzir mitos. De Lennon à Hendrix, de Dylan à Jagger. Pelé e Garrincha, Beckembauer e George Best. Muhammad Ali e Jim Clarck, Rod Laver e Gerry Lopez. Luther King e Malcolm X, Kennedy e Che Guevara. James Brown e Michael Jackson. Andy Warhol e Kubrick, Panteras Negras e Baader Meinhoff, Brigitte Bardot e James Bond.
Mitos. Não digo que sejam os melhores, mas sim que se cristalizaram como símbolos.
E se Paul chama multidões, Lou Reed canta ( canta ? ) discretamente, como foi subterrâneo o Velvet Undeground. E se os Beatles foram ( são ) a mais amada e famosa banda do mundo, é ( será sempre ) o Velvet Underground a banda guia de todo grupo que quiz e quer ser maldito. Se os Stones ou o Led foram melhores, o Velvet é bem mais perene, afiado, e deu muito mais cria. Porque desde 1969, não nasceu um só nome no rock dito alternativo, que não tenha um pé no Velvet. Microfonia com baladas de mel, vídeos chics e doidos com postura extra-cool. No mundo do rock-arte, tudo é V.U.
Portanto toda a adoração é devida a Lou. ( Além do que, foi ele, com Mick Ronson, que fez o meu disco favorito: Transformer. )
A gente acaba nisso: Paul, Dylan, Jagger e Richards e mais o que ( falo dos vivos ).....Bowie ? Led ?
Quem desde a década de 80 pode lotar um Morumbi e ser chamado de mito ? Madonna lota. Mas é um mito ? Morrissey não lotaria a Vila Belmiro e o REM idem. Oasis, Blur, Radiohead, Pearl Jam, bandas que têm ou tiveram o fanatismo de seus fãs. Mas são mitos ? Fora dos meios roqueiros, quem os conhece ? Seus pais já ouviram falar ? O garotinho de 10 anos já os escutou ?
Porque mito é o artista que define uma época FORA DE SEU MEIO DE ORIGEM.
Paul saiu do meio rock inglês e se tornou ícone global ( em era pré-tv mundial ). Coisa que nem Led ou Bowie ou Lou fizeram. Que só Michael Jackson ou Madonna conseguiram ( em era de MTV ) e que Dylan fez ( saindo do meio pop para as altas esferas da arte e da politica ).
Não haverá outro Paul. E nem mesmo outro Velvet Undeground. Todo aplauso é justo.