EU VI UM ANJO EM FORMA DE MÚSICO

E quando termina, fica em todos uma sensação de orfandade. Não vá embora, Paul.
No palco, Paul no palco, é como festa de família. São as velhas canções de nossos amores, dores, dos aniversários, das formaturas, dos natais. Os consolos e os presentes em forma de música.
Fique mais um pouco...
E há uma tristeza profunda em ver um show de MacCartney.
Porque é como ver um tigre branco. Sabemos intuitivamente que ele é o último dos últimos. Nosso mundo não produzirá um jovem Paul. Uma aristocracia da alma, é isso que ele representa.
Nós todos vimos uma criança no palco. As rugas se tornaram supérfluas. Ele é a confirmação de que para o verdadeiro artista, a juventude é para sempre ( e devemos desculpar e adorar suas infantilices ). Seu olhar é o mesmo de Liverpool. Seus murmúrios de músico country ainda são os do jovem fã de Buddy Holly e de Roy Orbinson. O modo como ele se comunica e respeita a platéia ainda é o de Elvis Presley e de Johnny Cash.
Em 1965 Yesterday fez com que os caras que ainda desconfiavam do rock passassem a respeitar os Beatles. ( E fez com que os mais radicais passassem a desconfiar de Paul ). Em 2010 eu constato que Yesterday é linda. Uma melancólica ode às coisas perdidas. Mas Blackbird é melhor. Eu juro que enquanto Paul canta Blackbird o mundo me pareceu lugar perfeito. A arte apolínea é feita para isso. ( E são os Beatles, na Inglaterra, que criam o rock de Apolo. )
Penso que seria lindo ter visto John Lennon no Morumbi. É uma sacanagem não termos tido a chance de o homenagear. Instant Karma e Jealous Guy seriam de matar.
Eu choraria ao ver George tocar While my Guitar com Eric Clapton.
Mas Paul é melhor que os dois.
E quando ele toca Let it Be, sei que há uma verdade na vida:
QUE NO FINAL, O AMOR QUE VOCE RECEBE É O AMOR QUE VOCE DÁ.
i love paul ( mas eu sou apaixonado por Mick e Keith, e há aí toda a diferença da minha vida ).