J.J.CALE, ROCK É COISA DE ESTRADA

O cara veio do sul. Entenda bem, do SUL. O negócio é quente, é San Diego, Tijuana, Baja, Orleans, Rio Grande, Mexicali... Cactus e o Bayou, como ele próprio diz: Land of broken dreams.
O cara passou uma década até começar a gravar. E até hoje, velho como um canyon, ele é para poucos. A voz de cigarros sem fim, de bourbon e de conversas à fogueira. Voz de botas rotas e cintos afivelados. Prata escurecida. Viejo.
A guitarra do homem é como México em technicolor. E é economia tipo Robbie Robertson. Só que Robbie é um falcão, seu toque é de ar; JJ é coyote esfaimado, toque de areia e osso. Gringo e palmeiras da Florida.
Carros vermelhos, imensos e com ferrugem, e morenas de jeans vagabundo. Um isqueiro acende-se no escuro: é o som de JJ. Tudo nesse som é noite de suor, a tua janela aberta por onde entra o ruído de alguém rindo. E pernilongos. Mas o som é também a tarde de sol, sempre calor, voz em movimento, em jeep, em carrão, em moto, em cavalo, a pé de pés descalços. Uma onda de suor cai pela sua testa. Bafo.
JJ são as melhores mulheres. As que sabem beber cerveja. As que sabem dançar seu próprio passo inventado. Que são como espinhos. JJ canta pra elas. E ele canta mal, mas ele canta como elas entendem, roucamente rascantemente espetadamente. JJ está sempre lá onde o vento faz a curva. Onde as coisas foram perdidas. Mas ele pouco se importa. Nunca chora.
Sério, jamais triste.
Feio, sujo e animal, sexy.
JJ Cale não é para cidades. Ele não está nem aí para tuas avenidas de lixo. Mas ele também não é aquele cara do campo verde de sonhos pacíficos. Asfalto fervendo e pneus que derretem. Ele é a diferença entre macho e viril. JJ é um homem.
Ouço agora os seis discos que tenho do cara. De 1972 até 2008. E ele nunca muda. É sempre exatamente o mesmo. Uma gruta de ouro onde o último mineiro morreu de calor e de sede. Totem mescalero. E digo pra parar de lorota ( pois a música mais longa de JJ tem apenas 3 minutos )
JJ Cale é do cacete!