Um samurai anda por caminho deserto. Joga um graveto ao ar, ele cai e o samurai segue a direção que o acaso indicou. Ele se coça, é sujo. Entra em vila e vê um cão vindo com mão humana na boca. A história promete.
Yojimbo, quando lançado, foi o maior sucesso da vida de Kurosawa. Àquela altura ele já era famoso e já havia assumido sua dívida para John Ford. Mas este filme vai além de Ford- mistura mangá com western, comédia com drama shakespeariano.
O samurai faz jogo duplo com duas famílias rivais. Toshiro Mifune faz esse herói. Ele passa o filme falando só o básico, o necessário. Ele come sempre com muita fome, bebe com sede e dorme com avidez. Quer dinheiro, se coça e boceja muito. É preguiçoso. Mas jamais deixa de ser um herói.
Existem certas atuações ( raras ) que marcam um novo rumo. Foi assim com Brando em UM BONDE... e com Bogart em CASABLANCA. Mifune inventa aqui Clint Eastwood, Steve McQueen e até Wolverine. Clint diz sempre ser este seu filme favorito. O assistiu em 1961 e sentiu estar ali tudo o que desejava fazer. JOSEY WALES, THE BAD e até OS IMPERDOÀVEIS têm rastros de Yojimbo. E claro, POR UM PUNHADO DE DÓLARES é a refilmagem de Yojimbo.
Kurosawa dirige com precisão de mestre. A câmera nunca está onde esperamos e cada enquadramento tem a marca de um estilo único. É o primeiro filme feito com design de HQ e ainda é o mais sofisticado.
O final, duelo à western em rua poeirenta, é de antologia. Um dos grandes finais da história do cinema. E com a trilha percussiva que voce nunca esquecerá.
Mifune/Akira/Yojimbo, o que mais se pode querer ?