EZRA POUND

Aqui no Brasil, graças aos irmãos Campos, achamos Pound maior do que ele realmente foi. Quem acompanha as resenhas/textos/antologias de poesia moderna achará que Ezra é do tamanho de Yeats, Eliot ou Stevens. Que nada!
Pound fez um troço bem estranho: ele pegava um poeta arcaico, tipo Arnaut Daniel ( séc. xii ) e escrevia como ele escrevia. Entenda, não era uma citação ou uma homenagem, Pound se tornava aquele autor, e escrevia no estilo, com a sintaxe, com o sentimento e com o tema daquele autor.
Ele foi assim em toda sua primeira e melhor fase. Cada poema é um poema "escrito" por algum poeta antigo. Depois, com Os Cantos, ele passa a misturar tudo. Ele se torna um mix de autor chinês com provençal, grego e latino. Um vale tudo.
Mas às vezes ele é grande. Embora a gente nunca saiba se aquela bela frase é uma tradução, uma adaptação ou criação própria.

"TUDO PROS DIABOS! TODO ESTE SUL JÁ FEDE A PAZ!
ANDA CACHORRO BASTARDO, A MÚSICA!
SÓ SEI QUE VIVO SE OUÇO ESPADAS QUE RESSOAM.
MAS AH! COM OS ESTANDARTES OURO E ROXO E VAIR SE OPONDO
POR CIMA DE AMPLOS CAMPOS ENCHARCADOS DE CARMIM
-UIVA MEU PEITO ENTÃO DOIDO DE JÚBILO!
..... QUANDO A TORMENTA MATA A HORRENDA PAZ.
..... NÃO HÁ VINHO COMO O SANGUE E SEU CARMIM!"

"CARNE DE FAUNO É NOS DEFESA
COMO A SACRA VISÃO
TEMOS POR HÓSTIA A IMPRENSA
O VOTO POR CIRCUNCISÃO"

Pond é pela maior parte do tempo essa nostalgia de idade medieval. Essa saudade do homem-como-homem, da vida como prova de valor. Mas esse saudosismo, tão século xx, é tragado pelo seu excesso de citações, de cultura erudita, de febre por absorção. Pound acaba cansando, é um excesso de energia, de vigor e ao mesmo tempo, um peso de esnobismo dandy, daquela coisa de americano querendo ser mais europeu que o europeu ( que nunca foi tão europeu assim ). Essa sindrome de emigrados americanos, se deu certo em James e em Eliot, não dá tão certo em Pound. Ele joga fora seu americanismo e coloca no lugar o desejo de ser chinês/provençal e francês. Desejo febril. Não satisfeito.

"O QUE AMAS DE VERDADE PERMANECE
O RESTO É ESCÓRIA
O QUE AMAS DE VERDADE NÃO TE SERÁ ARRANCADO
O QUE AMAS DE VERDADE É TUA HERANÇA VERDADEIRA
MUNDO DE QUEM, MEU OU DELES
OU NÃO É DE NINGUÉM?
(...)
QUE MESQUINHOS TEUS ÓDIOS NUTRIDOS NA MENTIRA
ABAIXO TUA VAIDADE
ÁVIDO EM DESTRUIR, AVARO EM CARIDADE
ABAIXO TUA VAIDADE, EU DIGO, ABAIXO
(...)
AQUI O ERRO TODO CONSISTE EM NÃO TER FEITO
NA TIMIDEZ QUE VACILOU.

Em páginas assim, Ezra Pound fala de si mesmo. E se torna maior.
Fosse um pouco menos "culto", teria Pound sido imenso.

"APRENDE COM O MUNDO VERDE O TEU LUGAR
NA ESCALA DA INVENÇÃO OU DA ARTE VERDADEIRA
ABAIXO TUA VAIDADE
O ELMO VERDE SUPEROU TUA ELEGÂNCIA
DOMINA-TE E OS OUTROS TE SUPORTARÃO
ABAIXO TUA VAIDADE"