ONDE NADA EXISTE- WILLIAM BUTLER YEATS

Yeats nasceu em 1865. Viveu até 1939. Durante esse período foi o mais famoso poeta de língua inglesa. Irlandês. O primeiro a ganhar o Nobel. ( A Irlanda tem a população da cidade de São Paulo. São cinco nobéis, o que dá um prêmio para cada dois milhões de habitantes. Seria como o Brasil ter 100 nobéis.)
Apesar de ser poeta, apesar de mais que poeta, ser simbolista, Yeats teve uma vida bastante ativa. Ajudou a fundar o teatro nacional do país ( que seria o Abbey Theatre ), lutou pela emancipação da república e foi senador. Apaixonado por uma revolucionária ( Maud Gonne ) que repeliu suas várias propostas de casamento, tentou depois se casar com a filha de Maud, sendo também repelido. Casou-se então com Lady George, que se revelou uma médium ( entrou em transe na noite de núpcias ). Foi através dessa esposa que Yeats formulou sua religião.
Ele escreveu peças de teatro, prosa, ensaios, crítica e claro, a mais bela poesia da língua.
Este é o volume onde Yeats se mostra mais irlandês. Em que pese sua origem aristocrática, ele vai às lendas populares e as reescreve, dando assim uma identidade à jovem nação republicana. O livro se faz de contos populares, de personagens do folclore celta, de magia e de mistério em bosques e choupanas, de tempo indefinido e sem relógio, de matéria inconsciente.
Yeats acreditava em espíritos da floresta. Mas sua crença está anos-luz distante de gnomos e de fadas auto-ajuda ou Senhor dos Anéis. O que ele diz em sua introdução é que existe UM VAZIO NO DESEJO, um vazio no além do cosmos, um nada no infinitamente pequeno, um além de nossa razão. E que é nesse vazio, nesse nada que mora Deus. Mas atenção: PARA YEATS, O DEUS CRISTÃO JÁ É UMA INVENÇÃO DO INTELECTO. O que ele nos diz é que o Deus que habita o vazio são os antigos deuses, os seres da origem, os espíritos da floresta, do sonho, da fagulha de origem, deuses que foram expulsos de nosso meio, tornaram-se exilados pela nossa razão. Não queremos e não podemos vê-los mais.
O livro vai adiante, contando histórias arquetípicas de homens dos tempos dos deuses. Heróis ainda possíveis, dos quais o mais presente é Hanraham, um professor-músico-poeta, vagando por vilas e matas, cantando e ensinando as crianças, sendo seduzido por donzelas e por bruxas. É ele o centro das lendas. É ele que Yeats situa, conscientemente, como modelo central do irlandês livre, do irlandês não-inglês. É o Macunaíma de sua terra.
Se existem deuses no vazio ou mais vazio no nada, não é o caso. O que importa é que a poesia só é possível quando se tem alguma crença, seja em deuses, amor ou revolução. Sem a fé a poesia morre.
Yeats era pleno de fé em deuses, em mistérios, em amor eterno, em novo-mundo. Penso ter sido ele feliz. Penso ser ele meu modelo. Não foi coincidência ele ter falecido em 1939. Os deuses o pouparam. Ele sabia: Onde nada existe, Deus existe.