KUNG FUSÃO - STEPHEN CHOW

Não escrevo sobre os filmes que mais gosto. Às vezes um grande filme dá ensejo a apenas um "maravilhoso" e um filme médio dá toda uma dissertação. Mas aproveito este filme para falar do que é um bom e um mal filme.
Sigo sempre a regra de Pauline Kael. Bom é o filme que atinge seu objetivo. Mal é o que não o consegue. Uma comédia deve fazer rir. Um drama tem de emocionar. O filme romântico faz com que amemos os personagens e um filme de arte tem de nos fazer ver algo de novo. Aventuras nos distraem e terror nos assusta. Bem.... até aí tudo simples. Isso seria a regra do filme ok. Porém, o filme realmente bom teria uma regra adicional. Ele jamais, seja em que gênero fosse, poderia ofender nossa inteligência. A honestidade seria a regra dourada. Manter o respeito ao bom gosto. E quando falamos de filmes excelentes estamos falando de comédias que também são drama ou arte, de aventuras que são épicos existenciais ou de filmes de amor que são poesias.
Stephen Chow faz uma comédia que tenta ser apenas uma comédia. E consegue. Mas o que me faz escrever sobre este filme não é seu talento ( que existe ). È algo que a princípio me incomodou no filme, mas que depois reconheci em mim mesmo. O cinema hoje só é possível como filho da tv e não mais o contrário. Explico.
A geração de Chow ( que é a minha ) é a geração que cresceu hipnotizada por Speed Racer, Pernalonga e Super Dínamo. Por mais que depois tenhamos amado Fellini ou Ford, nosso primeiro contato significativo com o audio-visual foi através das correrias de Road-Runner ou das trapalhadas dos Flintstones. As coisas acontecem em vinte minutos, tudo é colorido e os personagens agem sem pensar.
Se no cinema mudo a influência era do circo e se no cinema dos anos 30 foi o teatro, agora é tudo tv. ( Assim como o cinema dos anos 50/60 parecia tão rico por ser feito pela geração influenciada pelo próprio cinema ).
Cada vez mais os atores interpretam como se interpreta na tv. Um tipo de interpretação feita para o close, para o cenário pequeno, para dois personagens em cena. Os filmes diminuem. O visual é para telas menores, para ser apreciado em casa. ( Falo de filmes comuns. É claro que Avatar é melhor em tela gigante. Mas note: mesmo assim os closes abundam ).
Não é por acaso que a animação tem hoje um status tão grande. O fato não é o de ela ter melhorado. O filme com humanos, real, é que se tornou mais "desenho animado". Todo humorista é hoje Patolino. Todo herói de aventura é He Man e toda ação remete a Tom e Jerry ( correria sem fim com violência aos trambolhões ). O cinema de arte neste universo não passa de uma matéria de tv educativa.
Kung Fusão ( Soccer Shao Lin ) dá um passo adiante. Seus ( bons ) atores interpretam como cartoon. O filme jamais tenta ser de verdade, ele é tv todo o tempo. Mas, por ser tão honesto em seu objetivo, ele agrada e agrada muito. É bobo, superficial, mas nunca grosseiro ou fake.
Stephen Chow bateu todos os recordes de bilheteria na Asia com este filme. Trata de mestre de arte marcial que forma time de futebol. As cenas de ação são boas, mas há cenas muito engraçadas!!! Além do que, como ator, Chow tem um tipo excelente. Não se trata mais de desenhos terem de se parecer reais. Agora a realidade deve se parecer com cartoons.
O pessoal que hoje tem 20 anos, quando começar a fazer seus filmes trará o visual do pós-tv. Será o cinema influenciado pela internet e pela conexão 24 horas. Bem mais velozes que os filmes velozes de 2010 ( que ainda são tv ), e com ainda menos vida interior e tempo para reflexão. Talvez seja feito interativamente, sem diretor final ou sem roteiro fixo. Vai saber.
Kung Fusão é o máximo a que hoje podemos aspirar. E quer saber? Basta.