EZEQUIEL NEVES FEZ MEU PARTO

Era a revista POP e eu tinha 13 anos. Matérias sobre camping, Zappa, Bad Company e Lou Reed. Fotos de uma garota de 12 anos que vivia de girassol e mel. Surf e jeeps. E Ezequiel assinando como Zeca Jagger. Ler Zeca aos 13 foi nascer outra vez. Ele não escrevia sobre bons discos ou caras importantes do rock. Ele escrevia rocknrollmente sobre rocknroll, ele era um fã que jamais temia ser parcial.
Comecei a ler Zeca no Jornal da Tarde também. E lá ele era ainda mais rock. Para ele um disco legal era "descaralhante" e um disco ruim era assexuado. Zeca NUNCA suportou música brochada, vozes angelicais, músicas de gente boazinha. Pop era rock e rock era satânico. Sempre.
Foi ele que me falou de Iggy e de Roxy pela primeira vez. E foi ele quem me fez entender o porque de Genesis e Yes serem tão chatos. O segredo era sempre o mesmo: tesão. E tome Jagger e suas altezas satânicas!!!!! Jagger e Miles Davis, esse era o mundo de Zeca.
Nos anos 80 o pop começou a ficar muito fake, anti-descaralhante, posudo. Zeca foi produzir o Barão e se apaixonou por Cazuza. Lógico: Cazuza era o descaralhismo vivo. E aí perdí Zeca, perdí o rastro rocknroll da vida. Deixei estar em vez de deixar sangrar.
Morre Ezequiel hoje. Veja só, no mesmo dia que Cazuza... e este mundo frouxo fica um pouco mais frouxo. Um cara como Zeca não tem lugar em mundo de Big Brother e Caras. Seu caminho era outro, caminho de Big Road e Taras.
Divirta-se Zeca !!!!! Eu tô perdido sem pai nem mãe. A gente logo se vê por aí !!!!!