RAN AKIRA KUROSAWA, UM MONUMENTO

A cor. Vermelhos de sangue e verdes de mato ao vento. Imagens de nuvens e um sol. Esse é o visual do filme : sangue, relva, cavalos de castanhos brilhantes e nuvens. Há filme melhor fotografado que este ? Cada imagem é uma aula de estética.
Drama. Não há romance aqui. Este é o mundo da guerra. Universo de homens sem heróis. O inferno. RAN é o testamento de um gênio. Talvez do maior mestre dentre todos os mestres.
Ver o filme dá uma estranha sensação. Entramos em outro planeta, outra era. De seu início, plácido, até seu final, belíssimo, nós fomos jogados numa odisséia que vai do vazio ao nada. Quando o filme termina nos sentimos como de volta de uma viagem. RAN é uma jornada.
Sentí um ódio profundo quando o filme se encerrou. Pensei : -Como Kurosawa ousou fazer um filme tão genial ? De que adiantará agora ver outros filmes ? Todos parecerão pequenos !
A cena final do filme : um cego à beira do precipício. A beleza do kaos. O filme é belíssimo, mas é o inferno.
Em três horas vemos apenas cenas pefeitas. Todo movimento de câmera é discreto, todo enquadramento é riquíssimo. Cinema puro. Não há a menor influência de tv ou de teatro.
Uma sequência em que se exibe uma batalha. Não ouvimos o som da batalha, apenas música. Cenas coreografadas de sangue e crueldade. Uma das maiores sequências já filmadas. Kurosawa, o mais talentoso dos diretores.
Fazia algum tempo que eu não via um filme do mestre. Revendo RAN reencontro toda a amplitude que o homem pode ter. Nos seus filmes o homem nunca é pequeno, ele é um monumento.
Todos os locais onde RAN acontece têm a profundidade da melhor poesia. Um filme Shakespeare com tons de Dostoievski. Um Kurosawa.