ALL THAT JAZZ/TARANTINO/PAUL NEWMAN/BECKER

A LENDA DOS DESAPARECIDOS de Henry Hathaway com John Wayne e Sophia Loren
Aquele tipo de filme de cara que vai pro Saara descobrir tesouro. A fotografia de Jack Cardiff ajuda, Wayne exibe seu carisma e Loren faz a italiana emotiva. Competente. Nota 6.
BASTARDOS INGLÓRIOS de Tarantino
Os 3 grandes defeitos do cinema atual : 1. péssimos diálogos, 2. roteiros cheios de complicações que existem sem razão nenhuma. Apenas disfarçam banalidades, 3. visual de TV, muitos closes, muitos zooms, imagens estouradas, edição frenética ( tenta se dar ação pela edição ! ). Pois bem. Neste filme Tarantino faz um filme com cara de cinema. A estética é a dos grandes filmes de aventura dos anos 60. O roteiro é certo e direto, nada de pseudo-intelectualismos. E os diálogos são dignos dos anos 30. Ele faz seu filme mais adulto. O cara sabe tudo e ama a arte com sinceridade. Ele me dá esperança. Nem tudo se perdeu ! Nota DEZ.
O INDOMÁVEL de Robert Benton com Paul Newman, Bruce Willis, Jessica Tandy, Melanie Griffith e Philip Seymour Hoffman
O último grande desempenho do mais simpático dos atores americanos ( de 1960 pra cá... ). Paul é um velho quebra-galhos numa cidade pequena. É um perdedor. O filme não é triste, é quase uma comédia lenta. Willis é seu patrão muito mal caráter. E a maior atriz do teatro americano, Tandy, é sua senhoria; Melanie é a esposa do patrão e Philip um guarda fascista. Robert Benton foi um roteirista de gênio ( Bonnie e Clyde ). Como diretor sempre foi apenas OK. Mas o filme é bonitinho. Paul Newman é excelente. Nota 7.
PAIXÃO PROIBIDA de Serge Gainsbourg com Jane Birkin, Joe Dalessandro e Depardieu
Dalessandro foi ator dos filmes de Andy Warhol. Ele se parece com um jovem Iggy Pop mais bonito. Péssimo ator, ele apenas posa fazendo cara de mau. Ele aqui é um caminhoneiro. Gay. Ele viaja com seu namorado. O filme foi feito nos USA. É um filme estradeiro. A trilha sonora, do próprio Serge, é um tipo de som "Bonnie e Clyde". Pois bem... o caminhoneiro conhece num posto de gasolina uma moça que é muito magra. Tão magra que se parece com um garotinho andrógino. Joe se apaixona por ela. Mas por ser gay, ele só faz com ela "sexo gay". Entendeu ? A moça é Jane Birkin, esquisita e com um rosto lindo. O filme é cheio de lixo, poeira e fedor. É ruim pra caramba. Serge põe a câmera sempre em lugares errados e os atores ficam perdidos. Os diálogos são de doer ! Gerard Depardieu faz um gay sempre de branco, longos cabelos e sobre um cavalo também branco. O filme nunca teme o ridículo. Eu achei muito divertido. Mas é um lixo. Lixo que me seduz. Nota invisível. ( ).
ERA NOITE EM ROMA de Roberto Rossellini
3 homens fogem da prisão dos nazistas. Se abrigam na casa de uma romana. O filme mostra o cotidiano da Roma da guerra. Os fugitivos são cada um de uma nação. Roberto dirige daquele modo seco e pobre de sempre, parece televisão educativa. nota 2.
FANTASMA de F.W.Murnau
Ele seria o grande diretor na América dos anos 30/40 se não houvesse morrido em acidente de carro tão cedo. Este é um filme silencioso sobre a perdição da paixão. Há uma cena de baile que usa câmera na mão, efeitos de zoom e fundo psicodélico !!!! Em 1922 !!!!! Murnau sabia ser ousado. Mas este roteiro é bastante piegas.... nota 4.
MULHERES NO FRONT de Valerio Zurlini com Anna Karina, Marie Laforet, Lea Massari
Fala dos grupos de prostitutas que eram usadas no front pelos soldados italianos. Cada moça era objeto de um batalhão inteiro !!!!! Zurlini era um diretor maravilhoso ! Seus filmes são poemas à melancolia que não nos deprimem. Anna está lindíssima como uma prostituta que ainda vê humor na vida, uma bela comediante. O filme é trágico e apesar de ser um dos menos conhecidos de Zurlini, é ainda invulgarmente bom. Nota 7.
LE TROU de Jacques Becker
Um milagre ! Eis um filme de duas horas e quinze minutos, todo passado entre uma cela e uma rede de buracos, que jamais entedia ou irrita. Becker, grande diretor, se deu este desafio, e o venceu. O filme é viril e apaixonante aventura. Tem, inclusive, um dos melhores e mais terríveis finais que já assisti. São cinco prisioneiros, que com engenho e calma, tentam fugir da prisão. O filme evita os chavões : a prisão é limpa e tranquila, não há violência alguma, o diretor é compreensivo e os presos comem bem e são camaradas. Mas eles estão confinados ! E como o homem está condenado à liberdade.... O filme não tem trilha musical nenhuma, e os sons do esforço físico daqueles homens abrindo túneis na rocha pura é aterrorizante ! Fime diferente de tudo que voce já viu, ele permanece na memória. Becker ( pai do também bom diretor, Jean Becker ) era um talento gigantesco ! Esta OBRA-PRIMA o prova. Nota DEZ.
OS GUARDA-CHUVAS DO AMOR de Jacques Demy com Catherine Deneuve
Ah!!!!!! Jovem Deneuve... tão lindamente perfeita que chega a parecer uma ficção ! Este filme, com trilha musical de gênio de Michel Legrand, é todo cantado. Quando digo todo é todo : quando alguém diz : - Quanto custa ? Isso é falado em música. Ou seja, é uma ópera. Mas em ritmo de jazz pop. O filme é colorido, fantasioso, feliz e hiper-romântico. Se voce gosta das melodias vai amar, se detesta musicais, irá rir dele. Nota 6.
ALL THAT JAZZ DE BOB FOSSE COM ROY SCHEIDER E JESSICA LANGE
FELLINI JAZZ E ANSIA POR VIVER = O FILME DA MINHA VIDA.
Quantas vezes ? Vinte... mais... trinta...talvez. Só no cinema foram quatro. Este não é o filme que penso ser o melhor que já assisti, mas é MEU filme. Tenho de o rever todo ano.
Bob Fosse... ele foi o mais sexy coreógrafo e diretor da Broadway , e é, até hoje, o único cara a ter ganho no mesmo ano os 3 grandes prêmios : Oscar/Tony e Emmy- cinema, teatro e TV, tudo em 72. Se ele escrevesse teria ganho o Pulitzer naquele ano... Bob Fosse era como Joe Giddeon, o personagem deste filme ( ah... se voce não sabe, o Oscar de 1972 foi por Cabaret, vencendo O Poderoso Chefão ). Mas voltando, Fosse era fumante doido ( quatro maços por dia, inclusive no chuveiro e na cama ), mulherengo, egocêntrico, anfetamínico, criativo, cardíaco e genial. Morreu na reestréia de Chicago, Broadway... Como acontece aqui, em ALL THAT JAZZ, morte na estréia. Fosse escreveu o roteiro de sua futura partida.
A verdade é que nunca desejei ser O Homem-Aranha ou Bill Gates. Eu queria ser Joe Giddeon/ Bob Fosse. Brinquei disso por mais de uma década, na faculdade e na vida. Namorei e escrevi como se "fosse" Joe Giddeon. Confesso. Foi muito bom...
Cada década tem um musical que espelha o que ela foi. Não é necessariamente o melhor da época, mas é seu retrato. Os anos 2000 têm o chatíssimo CHICAGO, que desmerece o trabalho no palco de Fosse. É um filme cheio de acontecimentos, truques e baboseiras. É a cara deste cinema. Os anos 90 são representados pela jovialidade colorida de ROMEU + JULIETA, aquele de Baz Luhrman com Di Caprio. Bobinho e bacaninha, como os 90. Nos 80 temos FLASHDANCE, e nem preciso dizer nada... e os 60 têm o muito otimista e cômico POSITIVAMENTE MILLIE. Nos anos 70, os anos de drogas, sexo, loucura e nóia, existe este plásticamente exagerado, histéricamente fascinante ALL THAT JAZZ.
Bob Fosse pega o roteiro de OITO E MEIO de Fellini, diretor pelo qual ele tinha obsessão confessa, e o refilma. No lugar do diretor de cinema em crise, um diretor de teatro. Sai a Itália, entra New York. Continuam as mulheres, as memórias e a doença. Permanece a absoluta e completa genialidade. A memória, sonhos, ideal de beleza, música.
Joe Giddeon, numa impressionante atuação "de macumba" de Roy Scheider, acorda ( esta cena é repetida por todo o filme ) e ao som de Vivaldi, se entope de bolinhas e cigarros ( o Camel que eu fumava...) Pinga colírio no olho vermelho, e em frente ao espelho, ele repete a sí-mesmo : "- SHOWTIME FOLKS!" Todas as manhãs..... Hoje, quando em ansiedade, ainda me pego neste " Showtime folks! " para mim mesmo... Então ele vai ao teatro ensaiar uma peça que não evolui. Ele está em crise.
Ao mesmo tempo ele sofre com a consciencia de ter estragado um bom casamento, mas continua não resistindo às jovens atrizes. E ainda tem de editar seu novo filme, ineditável. E sofre a pressão de um ator perfeccionista e crítico temível ( o filme, na vida real era LENNY e o ator carrasco era Dustin Hoffman, famoso por torturar diretores com sua mania de perfeição ).
Giddeon sofre infarte e o anjo da morte é Jessica Lange, de branco, maravilhosamente linda ( em Fellini foi Claudia Cardinale ). O filme ousa : sua hora final é a descrição da morte do diretor do filme. Giddeon conversa com a morte/mulher, e beleza das belezas : tenta flertar com ela.
Joe/Bob Fosse tem apenas um grande amor real : aquele anjo da morte.
As cenas de ensaio, de bastidores e a atuação dos bailarinos chega a ser comovente. Mas na morte do diretor, longa cena dançada, com enfermeiras, corações de plástico, sangue e seringas, Bob Fosse atinge o mal-gosto e o sublime, o mais feroz pessimismo, mas também uma garra vital dionisíaca. Não há filme que nos dê tão explícita imagem da força da arte dionisíaca. A agonia da criação está toda em exposição. Dor e prazer, vaidade e aniquilamento.
ALL THAT JAZZ mostra a vida que desejei ter. Bela e perigosa, glamurosa e podre. É óbvio que não sou Fosse ou Giddeon. Sempre soube disso, minha viagem não foi tão doida. Mas a graça estava em seguir a miragem. Bob Fosse me deu um presente que iluminou meu caminho. É pouco ?
Perfeição é sempre sinal de má arte. Perfeição é para ciência. Chicago tentou ser perfeito. Moulin Rouge é perfeito. ALL THAT JAZZ é todo errado. E por ser torto, chega lá. Não é feito de luz e música. Ele é semem, tabaco, coxas, traição, sangue, suor, solidão, tosse, doença e inenarrável beleza. Transcende. Ele é eterno. Anjo da morte que seduz Joe Giddeon e nos arrebata.
Continuo fã deste filme. Não precisaria de nenhum outro se tivesse de levar um só para a tal ilha deserta. Me diverte, me inspira e me guia. Joe Giddeon é meu xamã.
ALL THAT JAZZ. Voces queriam saber ? Sempre ( desde 1979 ) foi meu filme favorito. Não o melhor, mas o mais amado.
Fecho o zíper : riiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiipppppppppppppp..... fim.