Foi-se o tempo do pagode. Quem tem entre 11 e 18 anos está pouco se lixando para a maliciosa ginga ( pobre ) daquele samba de quem não gosta de samba. O tempo do sertanejo também está acabado. A molecada da periferia escuta apenas funk e às vezes ( os mais radicais ) rap. Mas é rap de bandido, de tiros, de sangue. Qual vai ser o futuro dessa galerinha ?
Eles respeitam apenas quem tem. Se voce tem grana ( vinda de onde vier ) voce merece respeito. Se voce não tem, voce é um zero. Daí vem a falta de respeito pelo professor, um zero, pobre, derrotado. No funk eles aprendem tudo de errado sobre sexo : -" Como vai sua puta ? " -"E voce, sua galinha?" Eu juro, muitas meninas de 13 anos se cumprimentam assim. Os garotos ( 12 anos ) falam ( tentam ) com voz de bandido e andam pelos corredores passando a mão na bunda das meninas ( 12 anos ). Elas riem. Ou dão um soco. E fica por isso mesmo, o garoto se vai, sorrindo, pensando que isso é ser homem.O tal do Amor platônico ? Só entre os emos. ( Poucos emos ).
Sabem tudo sobre informática. Todos têm maravilhosos celulares, os mais modernos, com tv e tudo mais. Passam o dia ouvindo funk, nos corredores, na rua, na aula. Recebem e mandam mensagens de minuto em minuto, porém são incapazes de redigir um pensamento coerente e alguns mal sabem escrever o próprio nome. Mas e daí ? Têm um tênis bacana e um mp5 !
Como pessoas do século XVI, reagem visceralmente a tudo que lhes atinge. Se não gostam de alguma coisa, negam sua existência ou partem pra porrada. Se gostam, dão a vida. A periferia desconhece Voltaire e Diderot : o iluminismo não chegou lá. As luzes da razão jamais iluminaram seus becos e vielas. Não tente lhes ensinar a ter bom senso, racionalidade, a pensar nas consequencias de um ato, nada lhes pode mudar, são medievais, se guiam pela força, pelo desejo sem freio e pela superstição. Religiosos são todos, espiritualizados, nenhum.
Moderninhos pra caramba ! Sabem tudo sobre as novas séries da Universal, Warner, Sony; conhecem novas danças e adoram roupa bacana. Para eles um filme de janeiro é velho em julho e uma música de abril é passada em maio. Público consumidor melhor, não há !
Mesmo assim eu aprendi a conviver com eles, e até a gostar de alguns. Adquiri, a custa de muito esforço, seu respeito. Falando a verdade, usando seus códigos, sendo direto. Há algo de muito infantil, de muito sincero em todos eles. Se não vão com sua cara, falam no primeiro contato. Se gostam, te seguem sem jogo algum. Nada de afetação, nada de frescura. Aqui, na perifa, não tem Oscar Wilde, Oscar de La Renta ou The Oscar goes to..., tem muita giria, muito palavrão e muito contrabando de coisinhas que tocam musiquinha. É miserável, é triste, é sem futuro. E está sempre numa festa de sexo, sexo e sexo. Mas não se iluda : Seus moleques são arautos do futuro. Sempre são. Foram os caipiras do Tennessee que anunciaram os tempos do rock em 1955; foram os cockneys de Brixton que anunciaram o glitter e os favelados da Jamaica que trouxeram o reggae; negros miseráveis da Philadelphia criaram o disco e favelados de Detroit o electro; Rap-Punk-Funk- tudo vem da perifa ( e até a revolução francesa, russa e escambau vem/veio dalí ). Pois é de lá nosso futuro : Analfabeto, cheio de transas sem amor ou sentido, com muito consumo de bobagens moderninhas e uma total falta de história ou razão.
A única filosofia é : O que eu quero é agora! E agora é sempre!