The good, the bad and the ugly. Aqui nasce o moderno filme de aventuras. Eis o filme favorito de 9 entre 10 diretores moderninhos, este é o western que até aqueles que não gostem de western adoram. O revejo então. E me emociono com suas faces gigantescas, com seu enquadramento absolutamente magistral, com seu roteiro cheio de humor e com uma violencia exata. Reconheço o personagem Tuco, feito com rara genialidade por Eli Wallach e vejo o nascimento do moderno herói cool - o Blonde- de Clint Eastwood- modelo de todos os heróis atuais. Note bem o que disse : todos!
Sergio Leone, fã confesso de Kurosawa, dirigiu este filme que mudou a história do cinema. Dirigiu sem medo de demonstrar seu amor ao mestre japonês: o inicio do filme é puro Kurosawa, o roteiro é ao estilo Kurosawa e Clint faz um Toshiro Mifune americano. Suas cenas de ação são lutas de samurais sem espadas e os longos silencios recordam Rashomon ou Os 7 Samurais.
Mas há um outro lado: todo europeu tem uma necessidade visceral de colocar algo de superior, de pseudo-aristocrático em tudo que faz. Um europeu não consegue- jamais- ser puro. Por mais que Leone ame o cinema de Ford e Hawks ( outras duas referencias do filme ) ele, Leone, jamais terá sua pureza, sua simplicidade, seu imediatismo americano.
Então, mesmo Leone tentando, ele cai na tentação de encher o filme com imagens pictóricas artística, de exagerar nas doses de música operística( a tão famosa trilha de Morricone funciona genialmente como música em sí- mas as boas trilhas de cinema devem fazer o filme avançar, comentar a ação e não, como aqui, chamar a atenção sobre ela própria e distraírem o expectador ).
É como rock inglês : por melhor que o cara seja ( e olhe que sou fã dos hiper-ingleses Roxy Music e Kevin Ayers ) eles nunca conseguem parecer tão crús/ diretos/ não afetados/ descomplicados- como os americanos. Sempre colocam arte no bolo. Pitadas de erudição, quilos de pretensão, temperos de simbolismo.`É o que diferencia Clash e Ramones/ Bowie e Iggy/ Beatles e Dylan.
Leone então, por mais que tente, acaba empetecando seu filme, dando uma profundidade ao que não necessita ostentar tal profundidade. E quase perde o rumo, nos ofetando um excesso de cenas bonitas, de música magnífica, de rostos arquetípicos.
Mas Sergio Leone é um mestre e consegue superar tudo isso. Se despe desse excesso e termina por nos dar um maravilhoso filme: divertido- apaixonante e inspirador.
Clint Eastwood, já famoso, dirige seu segundo filme : HIGH PLAINS DRIFTER ( O estranho sem Nome ). Um cowboy chega à uma cidade e se vinga de toda a população. Como ? Não direi para não estragar seu prazer. O que posso falar é que a vingança é tão terrível quanto é original.
Este filme, que tem uma fotografia belíssima de Bruce Surtees, é muito, muito estranho. Ele flutua entre o humor grosseiro e um tipo de horror sanguinário. Acaba sendo um filme meio indefinido, meio vago e absolutamente fascinante.
Voce começa a ter um imenso prazer em olhar aquela paisagem ( que não é "bela" ), voce passa a torcer intensamente pelo dito "herói" ( que é muito amoral ) e se pega envolvido.
Em seu tempo -1973- o filme foi intensamente massacrado pela critica, hoje é um quase clássico do western.
Eu sei que o filme de Leone é muito maior e melhor, mas este filme me deu um prazer bem maior.
Por fim, 3 Mules for Sister Sarah, filme de Don Siegel que é bacaninha mas que nunca dá certo totalmente. Simplesmente porque Eastwood não combina com Shirley MacLaine. Ela precisa de um ator mais falante, mais bonzinho a seu lado e na verdade, Clint Eastwood nunca funcionou ao lado de uma mulher ( nem com Meryl Streep ).
Neste filme ela é uma freira perdida no México e Clint é mais uma vez Toshiro Mifune nascido na América. Mas não se faz a fagulha. Esqueça.