SEM CULPA E SEM MORAL

Pretty Baby, filme de Louis Malle feito em 1977. Tem Susan Sarandon e Brooke Shields.
Não é um grande filme. É apenas um filme bonito e muito agradável. Mas acima de tudo, ele seria impossível nos dias de hoje ( principalmente feito pela Sony ).
Em New Orleans, 1920, uma menina de 12 anos ( com corpo de quem tem 12 ), cresce num bordel. Ela é filha de Sarandon, prostituta do lugar.
A menina brinca com os clientes e se comporta como uma criança normal e feliz. Brinca de dançar, cantar, falar piadas e observa, deslumbrada, o trabalho da mãe.
Um fotógrafo se encanta pela mãe e a criança sente ciúmes. Tenta seduzir o fotógrafo do modo como uma criança faria. Infantilmente, inclusive brincando de ser prostituta.
Certa noite sua virgindade é leiloada. E ela rí e se diverte em sua primeira noite.
A menina seduz o fotógrafo. Vão morar juntos. Ela brinca de ser sua vagabunda.
Lógico que a relação fracassa. A mãe a leva embora quando se casa com um homem rico.
O fotógrafo sofre. Mas nada muito dramático.
O filme é isso : um anti-Lolita. Não há arrependimento. Não há culpa nenhuma. A menina não é vítima ou vilã, ela se diverte e sente desejo ( infantilmente lidado ). O filme é leve, não julga, não tem qualquer moral a condenar ou a defender, ele mostra e exibe.
Malle é um dos mais naturais dos diretores. Começou em 59, em plena Nouvelle Vague, mas seus filmes sempre foram caretas no modo de filmar e ousados nos temas. Sopro NO Coração, de 1971, mostrava o incesto entre mãe e filho com total naturalidade e bom humor.
Malle foi para os USA em 75, casou-se com Candice Bergen, e fez uma série de filmes importantes. Voltou em 87 para a França e morreu nos anos 90.
Vale a pena conhecer Pretty Baby. Nem que seja para entender que tudo pode ter mais de um lado, mais de uma abordagem e que a vida é bem maior do que podemos perceber.