MÚSICA INGLESA
Um dos mistérios da história cultural é porque uma nação com tão boa literatura, a Inglaterra, tem uma música tão pobre. O maior compositor inglês é alemão, Haendel, e o único realmente nascido na ilha, que pode ser chamado de gênio, nasceu a mais de 300 anos, Purcell. Ingleses sempre amaram música, boas orquestras e boas casas de espetáculo sempre existiram. Divas da ópera ganhavam fortunas por lá, desde o século XVIII, mas os talentos da ilha não vingavam. Os ricos ouvintes importavam italianos, alemães. ---------------------- No século XX dizem ter havido um renascimento da música inglesa. Holst, Britten, Vaughan-Willians, Delius, Elgar, Walton. Ouço agora dois cds com os quatro últimos dessa lista. ---------- As Variações Enigma de Edward Elgar, talvez o mais amado compositor moderno pelos ingleses, não pelo resto do mundo; é uma obra que revela toda a fraqueza de tanta música de lá: cai às vezes em clima de fanfarra. É chata, é pretensiosa, é banal. E barulhenta. Não é longa, mas parece durar uma semana. Não diz nada, fala demais. Dizem bons autores, que ingleses amam música coral, de igreja protestante, e música de banda, de marcha militar. Elgar prova isso. Mas há Delius. Frederick Delius. DUAS PEÇAS PARA ORQUESTRA PEQUENA e DUAS AQUARELAS. Que coisa delicada, bela, sonhadora, diáfana. Emociona o modo como ele coloca os sopros sobre uma cama sutil de cordas. A harmonia que se desenrola em ondas rodopiantes. É música que lembra Debussy, mas está longe de ser uma cópia. Seria um Debussy mais sólido, mais simples, incrivelmente surpreendente. A melodia inicia e voce jamais sabe para onde ela vai. Pássaros entre folhagens. --------------- Vaughan Willians é ainda melhor. CONCERTO PARA ÓBOE é hipnotizante. Há muito de Ravel aqui. Toda orquestração, sublime, cálida, fresca, é de uma leveza etérea. Mas na segunda obra, THE LARK ASCENDING, temos quase uma epifania. Willians faz tudo soar como lembrete de imaterialidade. Genial. ------------------ Daniel Baremboin rege a Orquestra de Câmara Inglesa. Perfeitos.