PRIMAL SCREAM - VANISHING POINT

A ideia de se fazer um disco inteiro sobre um filme não é original, mas para mim, é sempre boa. Eu adoraria fazer um disco sobre MASH do Altman por exemplo. Bobby Gillespie e seus comparsas resolveram fazer sobre o filme cult de Richard Sarafian de 1971. Ouvindo o disco eu observo que para eles o filme é outro que aquele que eu vejo. Para mim é um quase western, para eles é uma viagem lisérgica. Não é um disco ruim. É apenas incompleto. ----------------- Espertamente, cada faixa traz um tempero da época em que o filme foi feito. Há psicodelismo aqui, uma guitarra wah wah lá. Percussão primitiva-eletrônica tipo 1971 à Timmy Thomas numa faixa, riffs à Sticky Fingers em outra ( Bobby tem fixação por músicas como Sway e Cant you hear me knocking ). Falta voz, claro. O Primal Scream sempre deveu um vocal que fugisse da vala comum dos filhos dos Stone Roses. Bobby Gillespie é mais uma voz da geração Baggy Trousers que parece fazer imitação de Ian e Shawn. O irônico é que Primal Scream é mais velho que Stone Roses e Happy Mondays. ---------------- A melhor faixa é Kowalski, um eletrônico safo típico do fim dos anos 90. As piores são aquelas em que Bobby inventa de viajar num tipo de embalo orientalista psico colorido incenso e velas que corta qualquer chance de tesão. É um disco muuuuuito irregular. As faixas variam: uma boa, uma ruim, uma ruim, uma boa. ------------- Por fim: que filme é esse? Eu o vejo como um western dos mais simples transportado para 1971. Um cara leva uma carga, a diligência é um carro veloz. Para Bobby é uma viagem doida movida à LSD e maconha. Tudo um tipo de ilusão onde ao final se encontra o tal "ponto de desvanecimento", uma passagem para outro mundo. Para mim, esse tal ponto é apenas a morte do motorista. Sim, ele é morto ao fim, e em super velocidade, ele leva o carro com ele. --------------- Qual versão está certa? Nenhuma! Vanishing Point é apenas um filme feito no estilo em moda então: O filme de carro e estrada. Um filme POP feito para agradar os caras de 18 anos de 1971. Décadas mais tarde ele pode parecer "arte", mas não é. E talvez Bobby, como eu, não veja arte alguma nele ( o que é uma benção ), mas tão somente uma diversão bem doida que nos remete, eu e Bobby, à nossa infãncia. --------------- Crescemos, eu, Bobby, Ian e Shawn no mesmo caldeirão POP. E Vanishing Point nos fala desse tempero todo. -------------- Can you dig it?