JOHN MCLAUGHLIN, ELECTRIC GUITARIST

De todos os grandes guitarristas nenhum tem sido mais esquecido pela moda que John McLaughlin. E eu não ficaria surpreso se voce, jovem, não o conhecesse. ( Esquecido apenas pela moda, pois os prêmios não param de cair em seu colo ). -------------- Jeff Beck, o guitar player dos guitar player, considera John o melhor de todos, vivos ou mortos. E noto no estilo de McLaughlin algo do que Jeff faz. Técnica, capacidade de fazer o que quiser, velocidade, timbre metálico, limites fleixíveis, prazer ao tocar. A diferença entre os dois é o blues. Jeff Beck jamais abriu mão completamente de seu começo de carreira. O blues está sempre perto de seu toque, mesmo que venha transformado em soul ou funky. Já John McLaughlin abandonou o rock, e com ele o blues, totalmente. O que ele toca desde 1970 é jazz, jazz rock, jazz pop, mas sempre jazz. --------------- John nasceu no interior da Inglaterra durante a guerra de 1940. No começo dos anos 60, companheiro de geração do trio Eric-Jimmy-Jeff, tocou blues com Jack Bruce e Ginger Baker. Mas não era sua praia. Enquanto seus companheiros partiam para o rock, as drogas e a fama, John partiu para o jazz. Fez nome no underground e para surpresa geral, Miles Davis o chamou. Ficou famoso. No começo dos anos 70 descobriu o budismo e foi rebatizado como Mahavishnu. Alcançou a fama mundial com a Mahavishnu Orquestra, grupo que tinha Billy Cobham na bateria e Jan Hammer nos teclados. É aí, na minha puberdade, 1976, que o conheço. McLaughlin tinha fama então, para rivalizar com Page ou Clapton. Mas seu interesse era a iluminação espiritual. E para ele, a luz vinha tocando sua guitarra de dois braços. ---------------- Era uma época sem internet e com LPs caros. Então eu lia sobre John, mas nunca tinha como o escutar. Até que em 1979 comprei um disco solo dele, este Electric Guitar, lançado em maio daquele ano por aqui ( é de 1978 ). Odiei. Não tinha vocais e na época era inviável eu gostar de música sem vocal. E era jazz. Me pareceu sem sentido, vazio, não possuia riffs, refrões, nada. Me livrei logo do disco. Troquei por revistas de mulher pelada. ------------------ Reescuto este disco hoje, 43 anos mais tarde. Não lembrava de nada, claro, mas sentia que poderia agora o apreciar. E foi o que aconteceu. John toca tão bem, é tão absurdo o que ele faz, que me posto fascinado. É como John Coltrane na guitarra. Milhões de notas por segundo. Ele faz o que deseja. ------------- Cada faixa, são sete, tem uma banda diferente com ele. Só feras. Quem mais se destaca é Tony Willians, o jovem batera de Miles e de Hancock na faixa 5, a suingada are you the one?, faixa que tem ainda o baixo de Jack Bruce. Na faixa seis Stanley Clarke faz miséria no baixo enquanto Chick Corea voa no teclado. Mas há mais, bem mais: Billy Cobham, Carlos Santana, Jack de Johnette, Alphonso Johnson e vasto e nobre etc. Sobre tudo soa a guitarra de Mclaughlin, dedilhada ou em wha wha, quase acústica ou pesada, lírica ou glacial. ---------------- Sem pudor algum, John fez sua carreira se desgrudar do mainstream e focou no jazz e nas experiências sonoras. Sempre penso nele ao lado de Robert Fripp, um guitarrista tão genial e tão indiferente à fama quanto John. Se nos anos 70 ninguém chegou nem perto da fama de Page e Clapton, McLaughlin e Fripp desenvolveram estilos e timbres únicos e com técnica perfeita. Jamais quiseram o trono de rei da guitarra. Estavam ocupados em tocar.