GEORGES SIMENON E JEAN GABIN

Um fato pouco notado, é que best seller adulto hoje é, acima de tudo, livro de auto ajuda. Romance que vende muito geralmente é juvenil ou pseudo adulto. Estranho pra mim lembrar que quando comecei a comprar livros, anos 70, Somerset Maugham, Graham Greene e Nelson Rodrigues vendiam em banca de jornal. Vendiam muito. Assim como Agatha Christie e o belga Georges Simenon. Em comum com Christie, o fato de que Georges escrevia muito, são dezenas e dezenas de volumes. Ambos se interessavam por crimes. Ambos tiveram vidas longas. Ambos venderam aos milhões. Ela é ainda hoje um nome familiar. Ele está fora de moda. Entre 2009-2010 tive meu momento Simenon. Nunca havia lido. Pensava que deveria se pop demais. Preconceito, óbvio. Esqueci que na época em que ele vivia, seu nome era sempre cogitado ao Nobel. Li seis livros dele, gostei de todos. Católico, sua prosa fala da culpa. Ele não é autor de mistério, o que o interessa é a punição. O preço que se paga por aquilo que se faz. O clima é sempre melancólico. Nada há de sexy em seu universo. Falo de Simenon porque acabo de ver 3 filmes baseados em livros seus. Todos franceses, feitos entre 1959-1963. Todos com Jean Gabin no papel do inspetor Maigret, o personagem icônico que Simenon criou. Os filmes são plácidos. Vemos com interesse, não com emoção. Não há suspense. Tudo é uma marcha rumo ao destino. Maigret é um anjo que decreta a pena. Ver Jean Gabin no cinema é um gosto adquirido. É preciso ter vivido para apreciar seu cansaço. Gabin é cansado. É um cara que viu tudo. Fumaça de Gitanes. Cachimbo. Ele é duro, mas não violento. É viril, mas está longe de ser um cowboy. Não dá socos, impôe respeito. Gabin é uma aula de como ser um homem velho. É sempre digno, seco, comedido. Nunca se revela. Não é fraco, jamais, mas está longe de ser um super heroi. Aliás todo super heroi é um menino frágil. Gabin é adulto. Ver Jean Gabin fazendo Maigret de Simenon é um prazer civilizado.