O FILME MAIS CHATO DA HISTÓRIA: O ANO PASSADO EM MARIENBAD, ALAIN RESNAIS

Consigo imaginar facilmente gente como Cacá Diegues ou Glauber, se sentindo muito superior ao bradar: Este filme é genial! Abaixo os filisteus! ------------ O filme mais chato do mundo era Lincoln do Spielberg ou aquele do PT Anderson sobre petróleo. São muitos. Mas Marienbad inaugura o filme chato que quer ser chato e tem prazer em ser chato. Filme igreja: ele capta fiéis. E eles amam a purgação que o filme lhes dá. ------------ Atenção! Eu falei "Filme Chato" e não filme ruim. Resnais não fez aqui um filme ruim, ele fez um filme que amola, enche o saco, chateia. Mas que não pode ser chamado de ruim, pois tem imagens lindíssimas ( de Sacha Vierney ) e exala uma elegância chique que nos faz admirar. ------------ Me lembro de uma propaganda de perfume, nos anos 90, quando ainda se podia ser chique, em que se copiava este filme. Era lindo e era engraçado. Qual perfume? Chanel? Gautier? Não lembro... --------------- Eu li um romance de Alain Robbe-Grillet, o autor deste roteiro, nos anos 70. Se chamava PROJETO PARA UMA REVOLUÇÃO EM NEW YORK. Nos anos 70 ainda se editavam livros do tal Nouveau Roman, e Robbe-Grillet era o mais famoso deles ( mas quem ganhou o Nobel foi Butor ). Grillet tinha por objetivo fazer um romance inumano, onde não houvesse gente e sim apenas objetos. Um romance sobre cadeiras, paredes, mesas. Sem ação. Sem enredo. O filme é quase isso, mas Resnais tinha outra aspiração. --------------- Façamos uma experiência: peço que voce recorde agora um amor de seu passado. Lembre do rosto da pessoa. Da voz. E daquilo que ele ou ela fazia. Observe agora: ela está presa dentro de voce. Morta. E é isso que Resnais exibe no filme: aquele palácio é a memória do homem e a mulher foi seu amor. Presa e preso dentro dessa memória, tudo ali se torna uma repetição ao infinito. Não pode haver ação, pois uma lembrança está encerrada, e portanto tudo nela já morreu, terminou. Nossa memória seria um túmulo. --------------- Não se pode chamar de ruim um filme que nos faz pensar isso. Mas nada impede de o chamar de chato. Afinal, ler Kant é bem chato e mesmo assim ele é genial. ----------------- Há quem diga que este é um filme de vampiros, que todos são mortos-vivos, e portanto se trata de um filme de terror. Não nego isso. Como disse, tudo que mora em nossa memória está morto. Os personagens posam, não interpretam, porque não podem mudar-viver-evoluir, estão presos para sempre numa postura fria e sem futuro. Não era isso que o roteirista queria, ele planejara que pessoas e coisas fossem o mesmo, iguais, centrais em condições idênticas, mas Resnais foi além e mostrou que a memória faz de tudo um objeto. ---------------- No mais o Nouveau Roman fracassou porque se voce faz um livro onde não há pessoas, onde tudo são coisas, ora...o leitor fará do homem que escreveu o texto persoangem e heroi do romance. --------------- 1961, ano deste filme, foi momento de onanismo de quem se considerava um aristocrata da mente. Havia em pleno apogeu Bunuel, Antonioni, Godard, Kubrick, Bergman, Cassavetes, Truffaut, e no seu começo Pasolini e Tarkovski. Entre esses nomes que citei tem muito filme bom e Bergman é um de meus ídolos, mas no geral, em 1961, Hitchcock, Huston, Hawks, Wise, e o cinema popular em geral, faziam coisas bem mais interessantes. E mesmo na França, Melville e Malle eram mais instigantes que Godard e Truffaut. --------------- Sim, ele é chato como são Stalker ou 2001. Na verdade é mais chato que esses dois. Mas não dá pra dizer que ele é ruim.