Sim, nascemos sós e morremos sós. Escovamos os dentes sózinhos e sonhamos solitariamente. Mas há um momento em que essa solidão termina. Nasce a chance do amor.
Cinema francês... faz dez anos que o cinema francês vive um belo momento. Veteranos em atividade digna ( quando não genial ) atores excelentes e novos nomes. Nada digno de Clair ou Clouzot, mas é um cinema que ao contrário do americano, ainda dá espaço para o homem adulto.
Este filme, onde o cenário sempre se parece com uma geladeira chic, e onde a neve não pára de cair, é poema discreto à solidão inenarrável. Todos se movem em células asfixiantes, todos tentam, desajeitados, escapar.
E como é fácil perder o amor ! Uma frase, um lapso, um não-dito... e pluft, foi-se !
Alain Resnais tem carreira que nasce no muito complexo ( Hiroshima e Marienbad ) e ruma a simplicidade. Ele se remoça, se torna cada vez mais leve, vai ao básico. Este filme é todo simplicidade, mas é principalmente elogio ao coração. Judiado coração.
O filme tem algum humor. Mas é melancólico. Patético. E profundamente HUMANO. Na ração de cinema "made in USA", onde até os perdidos têm a cara de George Clooney, é um alívio ver atores que têm rosto de gente. Como nós.
SABINE AZEMA, PIERRE ARDITI, LAURA MORANTE ( belíssima ) ISABELLE CARRÉ, LAMBERT WILSON e principalmente esse mago ANDRÉ DUSSOLIER. Estão superlativos. Trazem nos rostos a marca daquilo que não deu certo. Os diálogos que lhes dão para dizer são perfeitos, ecos de vazios e brilhos de esperança. O desajeitamento do primeiro encontro via internet é antológico.
Os minutos finais, neste muito simples filme, são sim momentos de gênio. O octagenário Resnais dá sua mensagem em cenas de brilho estético intenso e de discreta humanidade. Nada é grande neste filme, tudo é floco de neve.
O fato dele estar ainda em cartaz ( dois anos ? ) depõe a favor desse público. Ainda existe vida adulta nas telas. Ainda há público para este filme.
Nem tudo se perdeu.