UMA PALAVRA SOBRE A LIVRARIA CULTURA:
Sou do tempo em que a Cultura era a livraria mais elitista do Brasil. Loja na Paulista, menor, ela vendia importados no tempo em que importados eram muito, muito caros. O cinema ainda existia, sala imensa onde ela iria se alojar nos anos vindouros. Os vendedores sabiam tudo de clássicos e o foco era em filosofia. Depois, já neste século, era um lugar chique, muita gente ia só pra passear. Tinha uma sala de música clássica, muito livro de poesia e boa sessão de cds e dvds. A partir do momento em que essas mídias saíram de moda ela perdeu a razão de ser. ------------------- Quando inaugurou a loja do Iguatemi, espaço caro, dois andares de exibicionismo sem porque, ela decretou seu fim. Para se manter ela teria de vender muito, e vender coisas caras, e era lógico que não ia rolar. Tenho amigos que só compram livros on line, outros usam a tal telinha pra ler, a coisa acabou. Livraria hoje só se o aluguel do ponto for bem barato. Ou o ponto for do livreiro. ----------- Não sinto pena nenhuma do fechamento. A loja estava um horror e não era de hoje. Vendedores militantes, livros lacradores, gente como eu não se sentia bem vinda. Na livraria Cultura aconteceu fenômeno que ocorre neste século em todo ocidente, por reprimirem o conservadorismo eles perdem exatamente aqueles que consumiam mais livros. Pois ao contrário do que eles pensam, somos nós quem ainda queremos livros de papel. E fuçamos as sessões de filosofia e poesia. Portanto minha palavra sobre a Cultura é: já foi tarde. Nas últimas vezes em que lá estive não vi um só livro que me interessasse. Nada de nada. Apenas livros de auto ajuda, infanto juvenis e uma montanha de capas sobre as figurinhas banais da esquerda. Uma pobreza intelectual humilhante. ------------- O ato de caçar livros, segundo os bons psicólogos, é genético ao homem. Nosso instinto de caçador exerce seu direito ao procurar, achar e capturar aquilo que ele deseja. Faço isso em sebos. Percorro ruas e depois as estantes atrás da presa atraente. A Cultura havia se tornado um açougue de carne podre e não um campo de boa caça. Adios e não volte nunca.