O PRIMEIRO HOMEM - ALBERT CAMUS
Foi em 1984 que se publicou, pela primeira vez, este livro póstumo de Albert Camus. Os manuscritos foram encontrados no carro onde o autor morreu, em 1960. Era a primeira escritura do texto em que Camus trabalhava quando sofreu o acidente fatal. Por isso, é bom avisar, é um livro não trabalhado. Sentimos que Camus iria e deveria ter trabalhado mais sobre a escrita. Vejam só! Há trechos que parecem excessivamente chorosos, sim, chorosos! E eu tenho a certeza que ao reler, Camus os limaria, faria um polimento, eliminando a emoção da primeira escrita bruta. Pois o tema lhe é bastante emotivo: é a infância de Jacques, um argelino-francês que não é nem africano e nem europeu. É a auto biografia de Camus! -------------- O primeiro capítulo é soberbo e isso faz com que o restante pareça pálido. O pai de Jacques, recém chegado ao país, noite chuvosa, tem de lidar com o parto da esposa e encontrar seu novo posto de trabalho. Esse capítulo possui suspense, drama, verdade, e muita dor. Esse pai morrerá jovem, na primeira guerra mundial, o filho, Jacques, ainda com quatro anos de idade, e o tema de Camus, belo, é a tentativa de reencontrar os rastros desse pai. Porque Camus sabe que ele é o pai, que para se conhecer é preciso conhecer o pai. Então, adulto, ele volta à Argelia e tenta ver, ouvir, travar contato com aquilo que seu pai pode ter deixado. No percurso somos mergulhados na pobreza atroz dos emigrantes franceses, colonos, que foram enviados para lá. Vemos que a questão da colonização é muito mais complexa e dolorida do que tentam nos fazer crer hoje. Os colonos franceses foram usados, enganados, massacrados, esquecidos, como foi o pai de Jacques. Sua luta, seus sonhos, seu trabalho, sua fome, foi em vão. --------------------- Albert Camus foi incomparávelmente melhor que Sartre porque Sartre foi apenas um nerd rico revoltado com seus pais. Nada mais que isso. Tudo em Sartre é uma simplória tentativa de negar sua origem, de chocar papai. Camus era muito mais sofrido, duro, sensível, bom, verdadeiro, real. Sartre brincava com palavras, Camus sofria a vida. Cada palavra em Camus é um rastro, cada palavra em Sartre é parte de um discurso puramente verbal. Este livro, bastante irregular,poderia ser uma obra prima, mas a vida não quis. Pena.