O CRIME DE SYLVESTRE BONNARD - ANATOLE FRANCE
Anatole France, que viveu no tempo de Proust, foi, quando vivo, o autor mais famoso da França. Em 1921, veterano, ganhou o Nobel vencendo gente como H.G.Wells, Yeats, Shaw e Bergson. Eu desde sempre ouvi falar de France, ele foi um dos autores básicos para todo leitor culto. Ainda hoje me espanto quando vejo alguém que ama livros dizer que não conhece Anatole France. Por outro lado, sei que ele não faz mais parte do mundo em que vivemos, literário ou não. Em seu país ele começou a ser atacado já nos anos de 1920. Na nova literatura de então, a dos surrealistas, o que importava era brigar com a língua, desafiar o leitor. France não era assim. Ele escrevia histórias com começo e fim, criava personagens com psicologia coerente, não desafiava o leitor, o educava e amava a língua, nunca pensou em a destruir. Socialista, Anatole France falava das dores da pobreza e das injustiças da vida, mas seu foco principal era a beleza, France escrevia bonito e simples, nunca afetava. Para mim é um alívio ler um autor que fala minha fala, que vê minhas paisagens, que escreve para adultos e não para "adultos juvenis". Sylvestre Bonnard é um filólogo pacato e acompanhamos dois momentos de sua vida. O tema na verdade pouco importa, como a boa literatura de 1880-1910, o que nos seduz no livro é o modo como ele conversa conosco, o mundo que ele nos exibe, os sentimentos exemplificados. Ler France é como voltar para casa.