COPA DO MUNDO

Não vamos ser hipócritas, a Copa não é mais tão importante. O que a diferenciava de todo torneio de futebol era a chance de unir todos os grandes jogadores em um único mês. Era somente nela que voce podia ver Pelé contra Beckembauer. A cada 4 anos os maiores se mediam. Mesmo que aquele jogo não fosse tão bom, ele era único. Em junho de 1970 o Brasil venceu a Inglaterra no jogo do século. A gente sabia, era coisa única. ----------------- Hoje não pode e não há como ser assim. A Champions League é muito melhor como show e como esporte. O charme da Copa era o fato de que Rivellino, Tostão e Gerson nunca haviam jogado contra Bobby Charlton, Banks e Lee. Eram estranhos dentro do campo. Mais ainda, ver a Inglaterra jogar, ou a Italia ou o Uruguai, era ver outro modo de jogar. Uma Copa era a chance de tomar contato com vários estilos de jogo diferentes. Quando a bola rolava voce sabia que aquilo que voce ia ver era inédito. ----------------- A Copa perde o sentido a partir do momento em que o jogador da Argentina joga o ano inteiro com 5 jogadores da Espanha e enfrentou todos os outros 4 vezes no último campeonato. Esse jogador, argentino, é treinado por um francês, mora em Madrid e cresceu jogando em Portugal. Seu estilo é espanhol. E o estilo espanhol é holandês. A Copa passa a parecer mais do mesmo. Com apenas uma diferença: os jogos são muito piores. ------------------------- Por isso temos a impressão, verdadeira, que a Copa da Espanha em 82 foi a última pra valer. Ali ainda havia a estranheza de se ver um time desconhecido, de se testemunhar a primeira vez que Eder, Oscar, Serginho, Junior, Leandro, jogavam contra Rossi, Antognoni e Conti. Eram "primeiros encontros". Tudo parecia inédito. O Brasil tinha apenas um jogador que jogava fora do país. Nosso jogo era 100% brasileiro. E o italiano 100% calcio. Cada seleção era uma cultura, um modo de jogar, um planeta futebol. Isso dava ao evento seu caráter de festa, de exibição mundial, de coisa RARA. ------------------ Ver o Japão vencer a Espanha apenas testemunha a surpresa que não causa tanto espanto assim. Isso porque tanto Japão como Espanha são mais do mesmo. Modos de jogar que são conhecidos, copiados, estudados, dissecados, até virarem rotina. O jogo, divertido, jamais poderá ser histórico. A lembrança será tênue. A lenda nunca será construída. Ele marca um momento engraçado, mas nunca um momento decisivo. Como esporte Real Madrid e Barcelona é muito maior. Como produto a Premier League é mais excitante. Como fato histórico....bem, Brasil e Inglaterra será sempre maior. E parecerá cada vez mais mítico. -------------- A FIFA, pensando na sua rivalidade com a UEFA, tudo que importa é só isso, irá aumentar ainda mais o número de seleções. Ou seja, nunca mais haverá chance de Itália ou mesmo o Uruguai ficarem de fora. Veremos muitos Bolivia x Coreia ou Gana x Irlanda do Sul. E a imprensa fingirá, claro, que tudo aquilo é relevante. Eles precisam honrar o salário pago pela Coca Cola. Bilhões irão assistir sentindo saudades de um bom Corinthians x Ituano. Ou um Stoke City x Newcastle. Messi fará um gol comum e para manter a audiência dirão que foi gol de gênio. ------------- Falo com conhecimento de causa. Eu era do tipo que via todos os jogos, prestando total atenção. Esta é a primeira Copa que asssito quase nada e pouco me importa quem vai vencer. E na escola observo que a molecada também pouco se importa. Botam a blusa amarela, fazem festa, mas não ligam para o jogo. Voce ficaria surpreso em saber que os 20 garotos mais ligados em esporte da escola são todos fãs da NBA.