CATCH 22, UM FILME DE MIKE NICHOLS

Mas que filme brilhante é este! David Watkin, o fotógrafo, faz cenas de uma beleza cinética maravilhosa. São tomadas hiper próximas-fechadas e outras abertas, que variam sem parar. Aviões decolando, e nunca se viu tão belas decolagens, closes na fuselagem, closes nos rostos, o mar distante, a cabine claustrofóbica, o céu...Visualmente poucos filmes são tão excitantes e instigantes. E há as personagens. Joseph Heller escreveu o livro e Buck Henry fez o roteiro. TODOS os personagens são loucos e todos são deliciosos. O clime do filme é de histeria aguda mas Mike Nichols mantém o controle, não há um exagero em gritos e olhos arregalados, é um tipo de histeria cool. Martin Balsam é um general sujo e assassino, Alan Arkin um piloto em crise de pânico, Anthony Perkins um padre delicado, Orson Welles o comandante supremo, gordo, cansado, ausente. Jon Voight um trambiqueiro que vende o que pilha na Itália. Charles Godrin sempre de cachimbo, nunca fica nervoso. São montes de personagens marcantes que desfilam sem parar diante de nossos olhos deliciados. Mas eu pergunto: Por que este filme não foi um sucesso em seu tempo? Foi uma questão de timing. MASH de Robert Altman havia sido lançado alguns meses antes e seu sucesso crítico e popular havia sido imenso. Quando este filme saiu a sensação foi de replay, de o mais do mesmo. Pena, porque este filme complementa a obra prima de Altman. Ambos são críticas a guerra, mas cada um tem um estilo completamente diferente. MASH é uma comédia cínica maravilhosa e CATCH 22 é uma sátira hiper negra, cruel, louca, totalmente insana. Em estilo são opostos. MASH é focado no texto e nos atores, CATCH foca no visual, nas mudanças de tom, no tempo que vai e volta, em cenas de sonho e de pesadelo. Os dois filmes nos deixam em um estado próximo da euforia, são estimulantes. Catch 22 é o tipo do filme que pouca gente viu e que todos deveriam ver. Garanto que voce vai adorar.