TÔNIO KROEGER - THOMAS MANN

Thomas Mann era um poço de contradições. Frio e quente, piegas e impessoal, romântico e realista, um grande escritor e às vezes um verborrágico sem metro e gosto. Um esteta. Dizem que essa sua complexidade se devia a sua origem. Pai alemão, mãe latina, brasileira. Thomas jamais viveu no Brasil, mas nunca esqueceu seu sangue meio latino e meio nórdico. Prova disso é esta novela, Tonio Kroeger. Imperfeita, mas nem por isso menos bela. ( Eu ia dizer genial, mas nunca consigo usar essa palavra para Mann. Suas obras nunca alçam voo ). Tonio é um menino rico e introvertido. O vemos sofrendo por Hans, um amigo a quem ele ama mas que não o ama em igual intensidade. Já aí ouvimos Tonio dizer repetidas vezes que Hans é belo por ser loiro, já ele, filho de uma mãe linda, sensual, morena, "de país ao sul", sente-se sempre um estrangeiro. Depois o vemos aos 16 anos, numa aula de dança, onde apaixonado pela loura Inge, sofre um desastre humilhante por sua falta de jeito. Até aí temos um retrato preciso do adolescente desajustado. Ele é triste, porém, ao mesmo tempo feliz por sentir amor. Exatamente como eu fui. O que me incomodou, muito, nestes dois capítulos, foi a pieguice de Mann. Ele não consegue escapar do sentimento de ternura e de proteção pelo pobre Tonio. Depois o encontramos como adulto, escritor famoso, em conversa com uma amiga russa. Aí vemos aquilo que Tonio se tornou, um artista que apesar de dizer ter saudade da simplicidade, da vida simples do povo comum, é também um esnobe. Ele discursa para a amiga e seu esteticismo me irrita. Por fim, ele viaja à cidade onde nasceu, e aqui temos, finalmente, páginas profundamente humanas. Nada de especial acontece, mas os sentimentos de Tonio se tornam reais, profundos, e é então que percebo que Mann conseguiu. Ele nos faz conhecer o Tonio piegas, o Tonio romântico e o Tônio esnobe, para então nos mostrar o Tônio humano. No último capítulo, ele viaja à Dinamarca, e lá reencontra, por acaso, Hans e Inge em um baile. Se esconde deles, os espiona e então manda uma curta carta à sua amiga russa. Conclui que jamais terá lugar no mundo. Que o mundo da arte jamais fará sua felicidade e que o mundo de Hans e de Inge é o único feliz, mas não é dele. Tônio tentará ser simples, ser comum, se confundir com o mundo. Ser um homem. ---------------- Li todas as 80 páginas em um só fôlego. E ao final, sim, é belo. Sozinho, no quarto onde li, não posso deixar de murumurar comigo mesmo: Que Bonito isto! ---------- Não é pouco.