LADY BARBERINA - HENRY JAMES. O HUMOR.
No meu saudoso curso sobre Henry James, feito em 2015, já sete anos, o professor sempre ressaltava a ironia maravilhosa que há em James. Leio agora, pela terceira vez, esta novela, 110 páginas apenas, do autor anglo-americano, autor que é, para mim, o mais perfeito escritor. ----------- Como em tudo que ele escreveu, o enredo é falsamente simples: um americano, médico muito rico, resolve se casar com uma inglesa aristocrata. Tudo começa no Hyde Park, em um capítulo onde James esbanja seu poder de descrição. Os pais da jovem, óbvio, exigem um dote, o que ofende o milionário americano. Só então ele começa a perceber as imensas diferenças entre América e Inglaterra. Mas ele cede, se casam e vão viver em New York. Ela odeia. Ele não entende porque. Henry James foi um americano que escolheu viver na Inglaterra. Então quando o lemos, sempre tendemos a achar que ele irá tomar partido pelo velho país. Mas não. Por ser um gênio da ironia, se torna impossível saber qual o seu lado. Eu, pessoalmente, sempre penso que ele vê nos EUA uma inocência, uma honestidade, objetividade, que não existe na Inglaterra. E ao perceber isso, eu penso: Porque James se naturalizou inglês? Nunca saberei. ------------- Mas há uma irmã, Lady Agatha, que se apaixona pela América. E conhece um cowboy....e mais não conto. O que digo é o fato de que ao terminar de ler esta novela eu tinha um imenso sorriso nos lábios. Mais uma vez um americano era feito de trouxa pela malícia européia. Pois essa é a visão de James: Perto dos europeus, são todos os americanos um grupo de crentes ingênuos e pouco sutis. Falam demais, falam o que pensam, se deixam dissecar, se revelam. Uma frase de um dos personagens: A América é o paraíso para as mulheres, pois aqui elas podem falar e fazer o que desejam. E mais ainda, casam-se com quem amam. ----------- Nunca se engane, o feminismo é 100% americano. A ideia de democracia também. Como o é o mérito por ter dinheiro. É americano o se dar valor à um homem não pelo seu nome ou sua origem, mas sim por aquilo que ele fez, produziu, acumulou. São ideias hoje universais, mas que em 1880 eram típicas apenas nos USA. -------------- Para quem acha que Henry James fala apenas sobre o choque cultural entre EUA e Inglaterra, o assunto é muito mais vasto e vital. E acima de tudo, há a arte. A arte da escrita. O poder de nos dizer tudo aquilo que uma personagem sente, vê e pensa. O modo como cada personagem se torna real, sólida, verossímel. A profunda e ainda imbatível psicologia de Henry James. Um gênio.