SERGINHO CHULAPA NUMA TARDE QUE DURA PRA SEMPRE

Alguém postou no Face imagens de 17 de junho de 1979. Momento de um jogo entre Palmerias e São Paulo. Semifinal do paulista. Eu estava lá. Com meu irmão. E mais 120 mil pessoas. ------------------- Chegamos as duas da tarde. Fazia sol. Entramos as três e sentamos na arquibancada. O verde da grama lá embaixo. Havia uma emoção nos jogos de então. As torcidas ocupavam metade do estádio, então havia uma vibração em ver quem ocupava seu espaço primeiro. E observar a colorida beleza das imensas bandeiras. O verde e branco, os periquitos, o vermelho e preto, os bonecos de São Paulo, o santo evangelista. A arquibancada encheu, lotou, hiper lotou. Um cara ficou sentado sobre meus pés. Um de pé ao meu lado. Mal dava pra ver o campo. -------------- Se o jogo acabasse zero a zero, o Palmeiras iria para a final contra meu time, o Santos. O São Paulo teria 120 minutos para vencer e ir à final. As melhores chances foram do Palmeiras. Valdir Peres, goleiro do SP jogou muito bem. Zé Sérgio, o driblador ponta do SP esteve mal. O Palmeiras era melhor. Estava na moda. ---------------- Veio a prorrogação, e aos 10 minutos do segundo tempo, 115 minutos, o desanimo bateu na torcida do SP. Alguns começaram a ir embora. E a torcida do Palmeiras ergueu bandeiras. Os tecidos verdes voavam no começo da noite, agora fria. Mas então aconteceu o milagre. Um cruzamento e Serginho, o Chulapa, pegou de ombro. A bola subiu, silêncio no estádio, absoluto suspense, ela voa uma eternidade, e os santos, caprichosos, fazem ela entrar no canto do gol. Eu gritei. Meu irmão berrou. Todos se abraçavam, riam, pulavam, alguns choraram. Em meio segundo todas as bandeiras verdes sumiram. Eu as vi afundar como navios a pique. E o mar vermelho e preto se ergueu em ondas de alegria. Meu irmão dizia ser esse o maior gol da história do SP. Nem o mundial foi tão eletrizante. Quem esteve lá sabe disso. ------------------ Sendo santista eu entrei na folia. Puxei o coro de Serginho! Serginho! Eu torcia por ele. Ídolo é assim. Só pode ser ídolo quem é amado por torcedor rival. Ele era. Nunca vi meu irmão, tinha 14 anos, tão eufórico. ------------------- Revendo as imagens volta tudo à minha mente. E vejo Serginho rodando os braços louco de emoção. Foi uma epifania. Foi um ritual pagão. Foi lindo pra cara... -------------- Leio nos comentários do video um palmeirense dizer que ficou uma semana sem ir na escola. E que chorou no quarto. Como disse, foi uma tarde que durou para sempre.