POEMAS DE JACQUES PRÉVERT
Há um poema onde ele lamenta, sempre em seu modo leve e bem humorado, a destruição das florestas. Ironicamente ele diz que o papel das florestas é usado pelos jornais para divulgar a destruição das florestas. O tempo muda tudo: Prévert fala mal dos professores "que ensinam as crianças a obedecer". Escritos nos anos 30, nos anos de 1940, pelo comunista Prévert, seus poemas pregam aquilo que a direita prega em 2021: desobedeçam, não sigam seus professores, não creiam nos jornais, sigam aquilo que seu coração, e apenas seu coração, pede. Jacques Prévert, que foi também autor de alguns dos melhores roteiros do cinema francês, era comunista em um tempo em que ser comunista ainda soava honesto. Sua poesia é feita para o homem que ama e trabalha, para aquele que sofre mas não se deixa cair. -------------- Claro que Prévert zomba da igreja, zomba do patrão, zomba do pai de família, e essa zombaria deixa tudo datado. É aquele intelectualismo francês, necessário em 1920, primário cem anos mais tarde. Intelectualismo que por vaidade, por burrice, por rigidez, tanto artista latino, tanto pensador "original", ainda se apega para não ter de se auto analisar, se julgar, se revalorizar. -------------- Era o esquerdismo romântico de uma Paris que passava fome. O intelectual, solidário, se absolvia de sua inutilidade, nutrindo sentimentos fraternos pelo operário faminto. Não movia um dedo para lhes dar o pão, mas sofria com eles. Ou assim escrevia. Nunca saberemos o quanto de hipocrisia havia nessa postura. A do autor que comia ostras com Picasso e depois escrevia sobre a fome dos subúrbios. Enquanto isso os padres que ele odiava faziam sopas para as mães abandonadas e arrecadavam roupas para os que sentiam frio. Eu pergunto: Será que o texto irado era assim tão importante? ------------- Mas há a beleza da linguagem e essa não passa, não se faz demodée. E Prévert escreve bem, muito bem. Que sina não? Aquilo que parecia ser seu ponto mais irrelevante, a beleza da escrita, é o que faz dele legível em 2021, enquanto sua ideologia, aquilo que mais era elogiado em 1940, é hoje de uma pieguice óbvia e rasa, sem fim. Vale a pena ler? Quem sabe?