VIVA NO SEU TEMPO, MAS NÃO SEJA UMA CRIATURA DELE
Essa frase é de Schiller. E o alemão viveu seu tempo revolucionário. Mas se via como um homem de outro tempo, primeiro da idade média, e mais ao fim da vida, breve vida, como um homem do tempo que viria nascer um dia. Não há modo mais são de observar seu mundo que esse. ----------------- Somos sempre filhos de nosso tempo. Mesmo que odiemos ou não nos identifiquemos, nosso desajuste e nosso ódio são modos de ser do tempo em que vivemos. Não há como odiar 2021 ao modo 1810. Não há como negar 2021 e tentar viver com padrões de 1760. Será sempre um homem de 2021 vivendo como em 1760. É a crítica que faço aos trans. Serão sempre ex alguma coisa. Não se pode apagar aquilo que se foi. O que se foi é o que se é. ------------------------ Mas devemos e podemos amar um tempo que não seja este. E como todo amor, será incompleto. Valerá por sua tentativa. Amo vários tempos. O ano 900. Depois 1760. Os anos de 1910. Mas não consigo me ver como algo diferente de um homem que existe aqui e agora. Meus valores podem ser de 1910 ou de 1950. Mas sou isto aqui. Mesmo meu amor pelo cinema clássico é o amor de um homem de 2021 pelo cinema clássico de 1940. ------------- Luto contra aquilo que considero o mal do meu tempo. E é nisso que Schiller acerta. Não aceito a loucura de meu tempo e percebo a loucura porque conheço outras loucuras, sei onde elas vão dar. Para as perceber é preciso conhecer a sanidade. E em tempos de doença, o que é são não vive aqui e agora, vive na memória. ----------------- Animais vivem aqui. Animais são sempre de seu tempo. Humanos possuem uma história e a construem dia a dia. Quanto mais voce vive em seu tempo mais próximo da pura animalidade. O homem que reflete é portanto sempre de um outro tempo, mesmo que de 2018 ou mais próximo ainda. Não há reflexão sem um afastar-se. ------------------------- é isso