O SILÊNCIO, BERGMAN

Um dos mais terríveis filmes que já vi. O enredo é simples: uma mãe e seu filho, mais a irmã da mãe, descem de um trem e se hospedam num hotel. Estão em país de língua desconhecida. Calor terrível, gente estranha. ------------- Sven Nykvyst é o fotógrafo do filme. Difícil lembrar de filme em PB com fotografia melhor que esta. Gunnel Lindblom é a irmã- mãe. Sensual, atirada, que adora comida. Ingrid Thulin é a outra irmã, alccoólatra, doente, tradutora de livros, profundamente infeliz. Jorgen Lindstrom é o menino. Quase sem palavras, sem trilha sonora, o filme é um pesadelo. Chato, árido, sem saída. Por que Bergman fez este filme? Para que? Quem sabe? --------------- Duas cenas me causaram espanto: feito em 1963, ele tem, pela primeira vez, uma cena de masturbação sem disfarce algum. Ingrid Thulin se deita na cama e enfia a mão por debaixo da roupa. Exatamente na frente, abaixo do umbigo. Então vemos seu rosto em orgasmo, o gemido. Sem sombras, sem música, sem nada, é uma mulher que se masturba. Só isso. Outra cena espantosa para a época, é uma em um cinema. A irmã sensual vai ao cinema de noite, sozinha, e lá vê um casal transar. O que vemos é uma moça, bonita, de seios nús, montada sobre um homem, com cara de mau, gozando. Eu nunca vi um casal gozar de um modo tão real em filme nenhum. A cena dura apenas 30 segundos, mas fica na memória como se tivesse horas. É forte e é bonita. -------------- A irmã irá transar com um homem desconhecido, um homem com cara de bandido. Transam madrugada afora. Transam no calor, com suor, sem falar. Ele a pega por trás, ele abusa dela. Ela se deixa levar. O menino sabe, viu eles irem para o quarto, mas ele pouco se importa. --------------- Não conheço diretor que saiba filmar melhor o que seja o mundo de uma criança. O menino anda pelo hotel, se esconde, olha rostos estranhos, brinca com um bando de anões espanhois, espiona a mãe, vê o corpo nú que ela exibe para ele ( o filme é muito freudiano ). Como toda criança, ele olha, ele vê. Não interage, apenas está lá. Sua interação é com seu mundo, com ele mesmo, e com uns poucos que sabem entrar nesse mundo. Mas o filme não é sobre a infancia, é sobre a solidão, e acima de tudo sobre o sexo. ---------------- Todas as relações no filme são sexualizadas. Os anões parecem querer deflorar o menino ( e o vestem de mulher ), as irmãs parece ter um caso de incesto, o menino parece ser objeto de desejo sensual da mãe. Já perto do fim, a personagem de Thulin diz uma das poucas falas do filme: A vida é sobre tecido que fica ereto e sobre o desejo de gozar. Mais nada. ----------------- Onde eles estão? Hungria? Há tanques na rua. Uma cena belíssima, no começo: no trem, o menino vai à janela e vê filas e filas de tanques a passar na estrada. Porque essa cena? ------------------ Eu comprei este DVD em 19 de novembro de 2005. Eu sei porque abri a caixa e o ticket de compra ainda estava lá. R$ 37.90 reais. São 16 anos. Eu demorei 16 anos para o assistir. Nesses anos eu vi Morangos Silvestres 7 vezes. E todos os outros Bergman pelo menos uma vez. Mas evitei este filme até ontem. De madrugada tive um pesadelo assustador. Acordei ouvindo uma voz, feminina, pedindo socorro. Tremi de frio e medo em seguida. E pensei em fantasmas. ------------------ Voce não sabia ainda que Bergman é um dos maiores diretores de filmes que produzem medo? ----------------- ah sim... o filme é também sobre o corpo de Gunnel Lindblom.