O REAL E O NADA

Eu estava ouvindo um velho disco de uma banda que ninguém lembra e em dado momento o refrão diz que "Tudo é possível e nada é real". Tal letra é de 1990 e eles acertaram na mosca. ------------- Ana Bolena é uma série que transformou a rainha inglesa em africana. Voce pode dizer: Ora, e daí? Se ela tivesse olhos azuis ou pretos, que diferença faria? E eu te respondo: No caso dos olhos, nenhuma diferença, pois na cor dos olhos não há nada de político embutido. Ana Bolena é negra porque, segundo a série, " Ela lutou contra o patriarcado ". A mensagem é clara: Para lutar seriamente contra os homens voce deve ser negra. Ou sua luta será ilegítima. Tudo é possível e nada é real. Henrique VIII será logo um loiro capitalista seguidor de Trump e não irá demorar para que Francis Drake seja um bissexual ecológico. Ou não. Tudo é possível. O passado está morto. Que se faça o que se desejar com seu cadáver. --------------- Aqui no Brasil, em processo idêntico, se fez o mesmo com um velho terrorista branco. Para legitimar seu ódio contra o sistema sua pele foi escurecida. O negro está assim a se tornar um cliché, um tipo homogêneo que DEVE se comportar e pensar como negro. Fora do espectro revolucionário ele não é verdadeiro, ele será um negro fake. ( Ou seja, o não real se torna pseudo real no universo onde tudo é possível ). ------------- Crianças pensam que querer é poder e brincar é ser. --------------- Política explícita: A esquerda tem mordido a isca. A ampla frente contra a direita mostra o que é. A desmoralização da ABL é apenas um pequeno exemplo, risível, disso. ----------- O mundo real não muda de acordo com nosso desejo. O real será real. O ilusório será desvanecido. Não se pode vencer a biologia, a química, a línguagem, o tempo, e sim, a herança histórica. Por mais que se repita que a "beleza é uma construção social" continuamos indo atrás do belo e amando aquilo que nos traz beleza. E esse belo é o mesmo de sempre, aquilo que é saúde, força e harmonia. No mundo das redes, e só neles, há um mundo novo e permissivo. Fora dele tudo é o que é. ------------------- Estou lendo Ravelstein, um dos últimos livros de Saul Bellow. Em certo momento é dito que apenas burgueses, aqueles bem classe média, têm um medo absoluto de morrer. Pobres e muito poderosos possuem medos diferentes que o simples medo de deixar de existir. Ele conclui que viver guiado apenas por esse medo, o de morrer, seria a mediocrização absoluta da vida. ----------------- É novembro e 2022 está chegando. Cem anos de 1922, aquele tempo mágico de Picasso, Joyce, Eliot. Paris era uma festa. Hoje é o que? Uma velha maquiada.