RUMO Á FELICIDADE - INGMAR BERGMAN. É POSSÍVEL SER FELIZ?

Em seu começo já ficamos sabendo de seu fim: a esposa morre em acidente doméstico. Voltamos anos no passado e iremos saber como tudo chegou alí. Onde a felicidade? Tudo terminará em morte! --------------- Ele é um violinista. Neurótico. Insuportável. Durante todo o filme vemos sua profunda antipatia. Ele é incapaz de conjugar o nós. Seu mundo é o do eu. Tudo que o move é vaidade disfarçada de auto piedade. Mesmo assim há quem o ame. Sua esposa, colega na orquestra. Há ainda o maestro, feito por Victor Sjostrom, que no futuro seria o ator de Morangos Silvestres. Papel tão marcante que eu logo o reconheço em meio a orquestra. ------------ O casal namora e se casa. Os ensaios correm. Ela engravida. O filme é de 1949 e é surpreendente ver como na Suécia de então já se via como corriqueira coisas como aborto, sexo antes do casamento e até mesmo um velho casado que oferece a jovem esposa aos amigos. Os filhos nascem e eles vivem no campo. ------------- Mas ele é infeliz e na verdade, mais que isso, um terrível estraga prazeres. Fracassa em seu plano de ser um solista e isso o destroi. Tem um caso com a tal jovem esposa do velho, com o consentimento do marido. No ponto mais baixo de sua vida, ele bate na esposa. Se separam e fazem as pazes. Um dia ela morre. ---------------------------- Na última cena ele toca na orquestra. Um dos filhos entra e assiste. O filme acaba. --------------- Onde a felicidade? Na música. O maestro é duro, rígido e tem consciência de que sua orquestra é de segunda categoria. Mas é feliz. Ele aproveita o sol. Ele adora comer e beber. E ele ama a música. Eis a chave do filme: a felicidade não mora na vida que levamos mas sim naquilo que criamos. Não apenas a arte, mas também os filhos. Será que alguém já percebeu que Bergman ama crianças? O violinista, ocupado em ser Grande, em ser um Solista, é incapaz de tirar sentido da orquestra, em ser membro. Assim como ele não entende o casamento. O filme deixa em aberto se ele será um bom pai. Eu acho que ele irá abandonar os filhos. ------------ Tudo que Bergman fará já está aqui. O amor às mulheres, a dificuldade em se integrar, o casamento como luta de egos, as crianças como criação de beleza, a arte como sentido da vida. O único assunto que ele não toca é o religioso. Todos os outros temas estão aqui. Inclusive a beleza do mar e da ilha. Não é uma obra prima, mas é um filme invulgar. Veja como entrada no universo de Bergman.