ESSAS LISTAS QUE NÃO TÊM MAIS GRAÇA

Eu, como Nick Hornby, já fui fanático por listas. Amava faze-las. Melhores e piores em tudo. Mas não sei o que houve, listas não me interessam mais. Falando especificamente de cinema, descobri tanto filme maravilhoso que não faz parte de lista nenhuma, que as escolhas críticas ou de espectadores hoje me parecem sem charme. Òbvias. Entediantes. ---------- Caiu na minha mão, estava à toa na biblioteca da escola, mais uma lista dos 100 melhores filmes da história, feitos até 2002. Preciso dizer quais são? Os de sempre. De Marcel Carné à Wajda, de Fellini à Scola, nada é difícil de achar, difícil de conhecer, surpreendente. ------------ Quando falo surpreendente não peço nada exótico ou fake como colocar por exemplo O SENHOR DOS ANÉIS como melhor filme da história. Adoro a trilogia, mas chamar os filmes de Peter Jackson de número um trai apenas o desejo de não ser óbvio. O que por si só é óbvio. Sim, não há como fazer uma lista sem aqueles 20 filmes que voce sabe quais são. Mas caramba! ------ Tenho descoberto atualmente vários diretores japoneses dos anos 60-70 e 80. Um cara como Seijin Suzuki, por exemplo, é tão bom como qualquer um da lista dos 100 mais. Essas listas são preguiçosas na verdade. Então para que as fazer? Provavelmente para despertar cinéfilos em botão, gente de 14 anos de idade. --------------------- SE EU FOSSE FAZER MINHA LISTA eu nem a numeraria. Escreveria ao acaso, talvez começando por UM TIRO NO ESCURO, a comédia que não canso de rever de Blake Edwards. Minha escolha não recairia nos filmes mais importantes ou mais originais, mas naqueles que me fizeram descobrir o cinema, em 1976, quando eu era criança, na TV e na tela de cinema, e que depois renovaram esse meu amor até hoje. Sim, porque às vezes perco o tesão por filmes, mas então vejo alguma coisa ( como Suzuki hoje ), que me faz acordar de novo. ------------- Eu não repetiria diretores, porque só Hitchcock ou Ford ocupariam dez ou trinta lugares. Então de Stanely Kubrick eu não escolheria nada, mas de Stanley Donen, um cara que tem cinco filmes escolhíveis, eu pegaria 7 NOIVAS PARA 7 IRMÃOS. Porque foi o primeiro musical que eu suportei ver. Depois dele é que entendi que amava musicais. E ele, revisto, ainda é o que mais me alegra. Isso elimina Cantando na Chuva, que também é de Donen. É mais importante, talvez melhor, mas não me marcou tanto. Entendeu? ---------- Cabaret é um dos filmes mais fortes lindos e perfeitos já feitos, mas de Bob Fosse prefiro ALL THAT JAZZ. Porque eu queria ser Joe Giddeon. Okay, não dá pra ignorar Fellini, e OITO E MEIO é melhor que Amarcord. Porque Oito e Meio mudou meu modo de ver filmes. Passei a entender, e a querer, que cineastas enlouquecessem enquanto filmam. O SALÁRIO DO MEDO é de Clouzot, e Clouzot tem mais uns quatro filmes dignos de estar aqui. Mas que coisa! O Salário do Medo é uma das aventuras mais nervosas já gravadas. ------------ De Bergman eu poderia escolher 6 filmes, mas é lógico que MORANGOS SILVESTRES é um dos filmes da minha vida. Amo tanto esse filme que nem consigo dizer o porque. Como todo amor, ele é instintivo. Carl Dreyer fez um dos filmes mais dramáticos: JOANA D'ARC. Acho que não há filme algum que se pareça tanto com um pesadelo. L'ATALENTE de Vigo também tem esse caráter de sonho, mas aqui é um sonho profundamente junguiano. Amo O SOL POR TESTEMUNHA de Clément, é lindo, tem estilo, é fantástico de se olhar e lida com suspense de um modo perfeito. ---------------- Westerns! Se pudesse eu viveria vendo apenas westerns. Eles viciam. RASTROS DE ÓDIO de Ford representa tudo que Ford fez, o que é muito. É meu filme favorito em qualquer estilo. É meu monumento. E, assim como 7 Noivas quebrou meu preconceito contra musicais, Rastros de Ódio é o faroeste que me fez amar faroestes. Bem....tenho de escolher apenas um filme de Howard Hawks, o diretor que eu queria ser. HATARI! tá bem escolhido. Foi o primeiro dele que vi, na Sessão da Tarde, e exemplifica o que Hawks fez na sua fase madura: a descrição do cotidiano usando uma aventura como pretexto. Eu amo ver o dia a dia desse bando de amigos na África. Putz! Hitchcock! Faço questão de contar...são 10 filmes que eu colocaria aqui sem problema, mas escolho INTRIGA INTERNACIONAL porque ele tem um diferencial, Cary Grant. -------------- Eastwood tem filmes muito bons e muito bobos, JOSEY WALES é de longe o maior e o melhor. E Philip Kauffman, que trabalhou nos anos 70 com Clint, fez em 1983, OS ELEITOS, uma aventura espacial que não me canso de rever. Não há filme que retrate o heroísmo de modo mais comovente. ----------- A maioria dos filmes aqui são americanos, mas o cinema francês, quando acerta, acerta de uma maneira sublime. RIFIFI foi feito por um americano na França, Jules Dassin, e é um filme policial magnífico. É desses filmes que reacenderam meu amor pelos filmes. OS ETERNOS DESCONHECIDOS é o filme italiano que mais me dá prazer em rever. Nada exibe melhor o dom dos italianos em criar tipos originais e ao mesmo tempo tão reais. THE RED SHOES é a obra-prima do meu diretor favorito: Michael Powell fez 8 filmes geniais, Red Shoes é o de maior sucesso. ----------------- O MENSAGEIRO de Losey, filme poesia fantástico. E da França, um Marcel Carné, O BOULEVARD DO CRIME, imenso retrato de um tempo de glória. THE DUCK SOUP dos irmãos Marx, diretor Leo McCarey,é o que tem os melhores diálogos. Como escolher um só David Lean? Sem querer ser falsamente original, vou de HOBSON'S CHOICE. Não vou botar nenhum Billy Wilder, já aviso. Gosto dele, como gosto de Kubrick, mas não têm nada que eu eleja entre os 100. A MALVADA é o Joseph L. Mankiewicz que escolho. E AS FÉRIAS DE MONSIEUR HULOT é o Tati que realmente gosto. Os outros têm falhas. Woody Allen? Hmmmm....eis um cara que tem envelhecido. O DORMINHOCO é anárquico e por isso imune ao tempo. ------------------- Cary Grant, Bogart, Fred Astaire, esses são atores que nos ensinam a viver. De Astaire, THE GAY DIVORCEE, A ALEGRA DIVORCIADA. É um privilégio poder ver um filme como esse. William Dieterle foi um grande diretor, RETRATO DE JENNIE é um conto de fadas triste e belo. Não tenho grande apreço pelos diretores italianos hiper valorizados nos anos 60-70. Tem de se escolher com muito cuidado. Me dá pena ver que por causa da crítica, muito kid começa a querer ver "as tais obras primas do passado" assistindo Pasolini, Antonioni, Rosselini, Rossi etc. Péssimo modo de conhecer cinema! Mas Visconti, assim como De Sica, tem alguns filmes geniais. De Visconti O LEOPARDO é maravilhoso e De Sica tem o inevitável LADRÃO DE BICICLETAS. ------------- Falei acima do Japão. Kurosawa foi durante anos meu diretor mais querido. Ele tem uma dúzia de obras primas e vou escolher um filme que não é um dos doze, mas que representa toda a beleza louca do cinema POP do país de Kawabata: YOJIMBO. Toshiro Mifune em grau máximo! De Mizoguchi pego CONTOS DA LUA VAGA. Não há filme melhor sobre fantasmas. ----- Carol Reed foi um grande diretor inglês, O TERCEIRO HOMEM é uma obra prima dolorosa. De Altman só MASH é perfeito, mas que perfeição! Mais um faroeste: WINCHESTER 73, um dos Anthony Mann mais prazerosos. ----------------------- Filmes policiais franceses são sempre soturnos. GRISBI é de Jacques Becker, e é viciante. Revejo todo ano. BOB LE FAMBLEUR de Melville é tão bom quanto. Aliás, Melville é um dos meus herois do cinema. ---------------- A BELA E A FERA de Cocteau. Nem preciso explicar porque. Foi o primeiro filme francês "velho" pelo qual me apaixonei. Um diretor italiano pouco lembrado é Valerio Zurlini. A PRIMEIRA NOITE DE TRANQUILIDADE é trágico, seco e inesquecível. -------------- MY FAIR LADY de Cuckor é talvez o filme que mais vezes vi. É um mundo de prazer sem fim. O GUARDA de WC Fields. Não há como não amar comédia tão sem porque. SHERLOCK de Buster Keaton é melhor que o mais famoso A General. A RODA DA FORTUNA de Minelli é o musical que me alegrou muito em madrugadas de Tv Manchete. E digo que é dificil escolher um John Huston....escolho BEAT THE DEVIL por ser um filme que eu não gostava e que de repente passei a amar. MOSCOU CONTRA 007 é o James Bond que me fez ver todos os outros. Velha noite fria na TV Tupi....sim, eu me lembro....-------------------------- Filmes dos anos 90? PULP FICTION e O GRANDE LEBOWSKI. Tarantino e Joel Coen. Foram os dois diretores a coisa mais interessante entre 1994-2004. ---------------- DURO DE MATAR de John McTiernan, a velha aventura de Bruce Willis. Lembra quando viu a primeira vez? Pois é. Mudou o filme de ação. Nascia o filme de aventuras com movimento ininterrupto. Já OS IMPLACÁVEIS é meu Sam Peckimpah favorito. Steve McQuenn né. Boto também BULLIT do Peter Yates. Esses filmes de carros feitos entre 68-74 são dificeis de não gostar. ------------------- HOMEM SEM RUMO de King Vidor, grande faroeste de grande diretor. E OS INOCENTES de Jack Clayton, filme de horror que é digno do texto de Henry James, o que não é pouca coisa. ----------- Comédias dos anos 80 são maravilhosas. O FEITIÇO DO TEMPO e UM PRÍNCIPE EM NOVA IORQUE são belos representantes. Okay, CASABLANCA e ....E O VENTO LEVOU são dos meus filmes mais queridos, Óbvio né? Mas coloco em pé de igualdade DENTRO DA NOITE de Walsh e A MULHER DE VERDADE de Sturges, um policial e uma comédia. E digo que voce não irá gostar de THE THIN MAN se o assistir agora. Mas eu adoro!!!!!!! William Powell e Myrna Loy inventaram aqui, sem querer, o casal chique moderno. ------------------------ Tá bom? Nem vou contar se já são 100.