CINEMA PRÉ CODE, VOCE SABE O QUE É ?

Para quem não conhece o cinema dos anos 30, há sempre um susto quando se percebe como os filmes americanos feitos até 1934 eram despudorados. Um filme como O SINAL DA CRUZ de Cecil B. de Mille chega a ser inacreditável. ( Há até zoofilia nele ). O que houve foi uma questão de dinheiro. Sete estados americanos se sentiram ofendidos pelos filmes "sem moral", e começaram a cortar pedaços de filme "imorais". Os grandes estúdios passaram a ter de fazer duas versões de seus filmes: com cortes e sem cortes. E isso encarecia o valor da produção. Além do mais, cidades católicas como Philadelphia e Boston boicotavam produtores muito ousados. Então, para desfazer tanta confusão, em 1934 foi criado o CÓDIGO DE PRODUÇÃO. É por isso que filmes feitos antes de 1934 são chamados de PRÉ CODE. ------------- Não vou ficar falando como eram os filmes anteriores ao código, nem vou dizer o que se proibiu. Prefiro falar de dois filmes que vi ontem. BABY FACE fala de uma bela menina, Barbara Stanwyck, que para subir na vida transa com todo mundo que pode a ajudar. O filme, despudorado, mostra essa mulher sem sentimentos, transando alegremente, sem dramas, com porteiros, guardas, chefes, milionários casados, políticos. A abordagem dela é direta: eu quero um favor e voce me deseja, façamos um trato. Após 1934 esse tipo de abordagem sexual desapareceu do cinema americano por mais de 25 anos. Simplesmente não haveria mais favores sexuais ou oferta explícita de sexo. Na verdade nem sexo haveria. BABY FACE é um filme divertido, mas LEVADA Á FORÇA é quase uma obra prima. Pouquíssimo conhecido, dirigo pelo prematuramente falecido Stephen Roberts, conta uma história sórdida, e naquele estilo rápido de então. Miriam Hopkins, mega sexy, é a filha de um juiz. Ela flerta com toda a pequena cidade e se diverte em despertar paixões. Mas uma noite ela sofre um acidente de carro e acaba na casa de um bando de criminosos. Lá ela é estuprada pelo chefe do bando, Jack La Rue, um ator interessante que eu não conhecia. Chocada, ela acaba levada à um bordel onde vira prostituta. Não mais resiste ao seu estuprador. Forte? Sim. Não há disfarce algum, nenhum adoçamento da coisa e nem se força o drama choroso. É o que é. O filme é curto, seco, direto e tem fotografia do mestre Karl Struss. Brilhante! -------------- Para concluir: Meu primeiro filme pré code foi A NOIVA DE TARZÃ e fiquei muito surpreso com a nudez da Jane de Maureen O'Sullivan. Depois percebi que os filmes dos Irmãos Marx feitos antes de 1934 eram muito mais doidos e livres. A Warner fazia então os famosos filmes de crime, onde os bandidos eram as estrelas, e até a MGM tinha cenas sexy, com banhos em rios e banheiras com espuma. O cinema precisou aprender a conviver com limites, aprender a ignorar uma parte da vida adulta. Grandes, muito grandes filmes foram feitos sob a vigilância do código, mas, claro, teria sido ainda melhor se ele jamais houvesse existido.