A TEORIA CERTA É SEMPRE A MAIS SIMPLES ( OU QUASE ISSO )

Hora de lembrar a teoria de Einstein. Ele dizia sempre: entre várias opções, normalmente a verdadeira costuma ser a mais simples. Escolha aquela que parece elegante, limpa, cristalina. Seres humanos amam teorias complexas, complicadas, dificeis de explicar. Talvez seja vaidade, poder posar como aquele que compreende a realidade tão complicada e árdua de ser entendida. Lembro que na USP eu decepcionava meus colegas ao optar por explicações históricas que levavam em conta o acaso, a sorte e a vontade de alguns. Sempre desconfiei de teorias absurdas como luta de classes, destino genético ou a mão invisível do mercado. A história ocorre por improviso. --------------------- Vivemos tempos paranoicos. Aliás, desde sempre. Eu vivi a época da paranoia comunista, da paranoia anti americana, a da AIDS, a paranoia do fim das chuvas, a paranoia da guerra nuclear e do perigo árabe. Claro que a URSS era ditatorial. Claro que os USA influiam na politica do aliados. Mas daí a dizer que todo mal do mundo se devia a um lado ou outro vai uma distância imensa. O que advogo aqui é que a história é a soma das ações, não propositais, de milhões de pessoas, cada uma tentando ser feliz a seu modo e do seu jeito. Nunca houve e não há um plano global para o planeta. O que existe é o medo do outro. A ONU ou a União Europeia são apenas isso, pronto socorros. E que nunca funcionam direito. ------------- O ser humano adora uma paranoia porque ela o absolve de sua culpa. Se voce fracassa a culpa é do seu adversário, da peste ou da equipe econômica do Afganistão. Não importa. Ter um inimigo poderoso e maquiavélico te livra de sua incompetência. Não vou fundo no que penso de Bolsonaro ou Doria, voce sabe, mas diria que é fácil para o Zé Paranoia culpar o Bozo pelo fato de um ônibus bater no seu carro, ou um outro Zé Paranoia dizer que a safra de algodão foi estragada porque a esquerda sabotou as máquinas. Os dois Zés sofrem, mas se isentam de culpa. Portugueses culpavam a indolência nativa pelo seu fracasso mercantil e os brasileiros culpavam a brutalidade lusitana pela falta de empenho no trabalho. O culpado é sempre o outro. -------------------- Volto então a dizer: não complique. Teorias que precisam de muito bla bla bla, que precisam de acúmulo absurdo de acasos, tendem sempre a ser falsas. A verdade é sempre óbvia e fácil de entender. Como falei, humanos amam narrativas, lendas, ter o que falar, poder posar de sabe tudo, poder explicar algo para os ignorantes. O sábio é modesto. Ele ouve. Ele sabe falar EU ERREI. ----------- Recordo de um professor que dizia, com absoluta certeza, que os EUA dividiam o mundo em consumidores e produtores de bens básicos. Eles faziam da Europa o campo de consumo dos produtos made in USA e o Brasil teria de ser pobre sempre, para que os EUA pudesem comprar ferro e manganês de graça. Eis uma teoria tão bem feita, tão sem arestas, tão acabada que obviamente só poderia ser falsa. A vida não é assim. Tanto que logo em seguida o Japão saiu do script e a URSS também. O caro professor não entendia que o consumidor dos produtos made in USA sempre foi o próprio USA. Tudo que os EUA sempre fizeram, e fazem, e manter seu consumo em alta. Americano come e gasta muito, Só isso. Fim. -------------- A teoria do professor absolvia o Brasil de seus erros. Eis o mecanismo da paranoia. A culpa era dos EUA. Tá resolvido. ------------- O vírus é um modo genial de exercitar a paranoia livremente. Se seu pai ficar doente a culpa será do vizinho bolsonarista ou do esquerdista pró China. Pior que tudo, o virus expõe nossa incapacidade de viver no acaso. A fala, recente, do Marcelo Nova, quem diria, é exemplar quanto a isso. Todos vamos morrer. É tão dificil pensar nisso? Vinte máscaras ou dois litros de alcool não vão te salvar, e vacinas feitas em meses não são garantia de nada ( ajudam, mas não salvam, dá pra entender? ). O virus nos pegou sem a segurança que a ideia religiosa nos dava. Nos refugiamos na tolice hipócrita da paranoia. O culpado é o outro. Morte ao estrangeiro. Morte ao que é diferente de mim. ---------- A teoria certa? O virus veio da China por acidente. Caiu na Italia e se espalhou pelo mundo. TODOS os governantes tentaram fazer seu melhor, mas alguns são medrosos e outros são precipitados. Nossa casta dirigente é retrato do tipo de população que temos hoje no planeta: medíocre. O combate ao vírus, em todo o mundo, é uma mistura de improviso e acaso. Ninguém mata ou deixa morrer porque quer. ----------- As vacinas são o que são. Tentativas. A população pede um consolo, vacinas e máscaras são esse consolo. Funcionam? Não custa tentar. Improviso. ----------- Os europeus cansaram das máscaras. O brasileiro é mais passivo. Mas um dia ele as tirará. A volta à vida não será como uma festa. Será apenas uma volta a rotina. E o mundo continuará como sempre foi. Um imenso acaso. ----------- Terei sido simples? A MORTE EXISTE E DELA NÃO SE ESCAPA. O INIMIGO É O VIRUS E NÃO UM PRESIDENTE OU SEU VIZINHO COMUNISTA. E ele surgiu por acidente, por falta de cuidado, por burrice, mas não por um plano dos homens ou de Deus.