LISZT E O AUTÊNTICO ROMÂNTICO

Chorar não é um ato romântico. Liszt nunca é choroso. Acabo de reouvir o concerto número um para piano e orquestra de Franz Liszt. Versão soberba com Richter, Um pouco mais rápida do que eu costumava conhecer. Trevas. Aqui a música, rica, varia entre as trevas da maldição e a melancolia da vida danada. É um concerto mágico. ------------------ Franz Liszt foi o primeiro artista da história a ter seu nome ligado à expressão MANIA. Era a Lisztomania. Sim, os Beatles usaram o nome cem anos depois. Liszt era o homem mais famoso do mundo e era seguido por fãs, jornalistas, reis e plebeus, fosse onde fosse. Em seus concertos as meninas berravam e molhavam suas saias. Invadiam o palco para lhe jogar flores. Ele podia ter a mulher que quisesse, e as teve. centenas. O mito se fez: Liszt tinha um pacto com o demônio. Liszt tocava tão bem por ter vendido a alma ao diabo. Liszt não era deste mundo. Artistas do futuro usariam todos esses slogans também. --------------------------- A verdade é que ele se interessava sim, por magia negra e tudo que envolvesse mistérios proibidos. Era um romântico, o mundo normal não lhe satisfazia. Jamais. Porém, e é aí que entra seu lado mais complexo, quando jovem Franz estudara para ser padre católico ( Liszt era húngaro, Franz era na verdade Férenc ). Ao fim de sua longa vida, ele iria se isolar e retornar à religião. Liszt morreria aos 75 anos como abade. ---------------------- Sua música influenciou Wagner. Os dois foram amigos, mas Liszt logo se afastaria. Ele não suportou o mal caratismo do alemão. Como todo romântico, para Liszt a arte é a expressão de seu eu individual. Mas, felizmente, ao contrário de Tchaikovski, o eu de Liszt é interessante. E nada choroso. Em sua música há sempre algo do brilho furioso dos eslavos. Sua melancolia é altiva e ativa e sua alegria é eufórica. Ele foi o primeiro compositor clássico que admirei. Este concerto é uma bela porta de entrada para este mundo.