O CÍRCULO VERMELHO - EDGARD WALLACE

Depois de Sherlock Holmes e antes de Agatha Christie, houve Wallace. Inglês, como são os outros dois, começou a publicar na virada do século e morreu ainda jovem, na década de 1930. Ao contrário de Conan Doyle, seus romances policiais não possuem aquele clima vitoriano, pausado, cinzento, racional, que tanto atrai nas histórias típicas de Holmes. Mas também não se parece com Christie, pois Wallace nunca criou um detetive central, cada um de seus livros, e são dezenas, tem personagens novos. É o livro policial britânico, milhas e milhas distante do estilo americano que seria criado quase que ao mesmo tempo em que Wallace iria para Hollywood, fazer o roteiro de King Kong. Ele vendeu muito. Chegou a ser durante décadas, um dos autores mais lidos do mundo. Para voces terem uma ideia, na minha velha edição da Enciclopédia Britânica, edição de 1971, não há verbete algum sobre Conan Doyle ou Agatha Christie. Não há nada sobre Chandler ou Hammett e nem Patricia Highsmith. Mas há um verbete sobre Edgard Wallace: autor de romances policiais ditos best seller. São autores de sorte. Publicaram exatamente durante o curto período em que ler era a atividade central de um lar de classe média. Jornal, revista e livro, lia-se tudo. Não havia nenhuma concorrência, o rádio chegaria apenas nos anos 30, ia-se ao cinema, mas dentro da casa, apenas livros. No mundo mais desenvolvido, o analfabetismo estava quase erradicado, então tudo se uniu para que, entre 1870-1930, ler fosse a diversão mais importante ( não escrevo única porque havia o jogo, a canção dentro de casa, as reuniões entre amigos, e o simples e civilizado ato de conversar ). Devo ainda dizer que vi, o Brasil é atrasado, o reinado do rádio, a TV aqui só se tornaria rainha no meio dos anos 70, e lembro bem de jornais e revistas com tiragens aos milhões. Edgard Wallace, em bancas e supermercados, sempre no prelo, entre Christie, Doyle, Huxley, Orwell, Nelson Rodrigues, Jacqueline Susann, Simone de Beauvoir, Harold Robbins, Cassandra Rios, Erico Veríssimo e Jorge Amado. Lido hoje ele se mostra bastante inferiro a Christie e Doyle. Mas li divertidamente. Valeu.