O MUNDO NUNCA MAIS SERIA O MESMO

Em 1986 veio o RAP. Ninguém achava aquilo coisa séria. Um cara arranhando discos e outro cara falando. Não era música. Era fake. RUN DMC com Aerosmith. Foi nesse ano. Public Enemy. Beastie Boys. Não parecia sério. Era modinha de verão. Mas o Blondie tentara um RAP em 1980...rapture. O Tom Tom Club tentara outro em 1981...genius of love... Até os Stones flertavam com o estilo. Mas todos faziam errado. Não sacavam que RAP era colagem e não guitarra e baixo á la Chic. O mundo mudou. O RAP mudou o mundo. O gestual mudou. O sotaque mudou. Roupas, filmes, filosofia de vida, tudo mudou. O jovem não seria, nunca mais, um um rocker no molde Jim Morrison ou David Bowie. Ele seria um rapper. Boné. Tênis no lugar da bota. E o gestual de mãos, caras e bocas, o modo de segurar um microfone, a relação com o disco...o loopin infinito das melhores beats, a colagem dos melhores riffs...a mistura geral. Ritmo. Acima de tudo, ritmo. Kraftwerk preto. Babacas, Nelson Mota por exemplo, dizendo: O RAP matou a música negra americana. Não idiota! Ele amplificou a black music. Nunca tanto branco ouviu tanto preto. Eu aceitei o RAP desde sempre. E intuí, tinha boa antena, que ele era irreversível. A vitória aguardada do ritmo sobre a melodia. Minha banda favorita de então, os RHCP sabiam do que eu sabia: O FUTURO ERA RAP COM PUNK, HARD COM FUNK, SOPA TOTAL. O século XXI nasceu em 1986.