1980, UM ANO PELA METADE

1980 foi o ano de The Game, do Queen. É um disco desconjuntado, as faixas não combinam, mas caramba, tem Another one Bites the Dust. Foi o ano também de Back in Black. E esse disco, histórico, é uma coleção de riffs insuperáveis. Hell Bells salva sua alma da pasmaceira. 1980, ano decisivo no rock mais musculoso, teve Ace of Spade. O Motorhead foi a zebra do ano. Chegou ao número um na Inglaterra. Mesmo indo contra a moda ´crítica de então: Gary Numan, Adam Ant e Madness ( gosto dos 3 ). O disco do Lemmy é como uma moto hiper turbinada correndo sem freio entre penhascos cheios de lava. Adrenalina. 1980 foi de British Steel, do Judas Priest. Críticos dizem hoje ser o terceiro disco mais decisivo da história do heavy metal. Ele é quase perfeito. Não gosto de United, um hino feito para o clube de Rob Halford. Mas todas as outras são matadoras. Não vou deixar de dizer que em 1980 houve Killer também. Voce sabe de quem. Em 1980 eu andava muito com três amigos. Inseparáveis nós três. Mauro ouvia apenas black music. E para mim, na época, black era música pop, sem valor nenhum. Tocava nas rádios tipo Cidade e Antena Um. Sonzinho pra " catar mulher ", nada mais que isso. Diógenes ouvia Led Zeppelin e Deep Purple. Duas bandas que eu considerava velhas, mofadas, antigas, vergonhosas. E havia Tinho, Robertinho, que ouvia os discos que citei acima. Eu não entendia como alguém civilizado como ele escutava algo tão "pouco refinado". Queen ainda vá lá, mas Judas? Angus Young e seu ridículo calção! O horroroso Lemmy! Os analfabetos Iron Maiden!!!! Eu tentava o salvar. Livra sua alma do pecado de um gosto vulgar. Que gloriosa missão! Não preciso dizer que em 1980 eu não ouvi nem um segundo de Back in Black, Killers, Ace e Judas. EU SABIA QUE ERAM PÉSSIMOS. Um crítico do Estado de SP me dissera isso. Em 1980 eu comprei Gang of Four, Joe Jackson, Clash, e claro, o hiper cool Elvis Costello. Eu tinha a auto satisfação de estar up to date, dentro das novas ondas. Eu ouvia o que apenas OS MAIS ESPERTOS ouviam. Melhor que tudo, eu comprava discos históricos, coisas que me davam uma cultura rock n roll. Naquele ano foi Crosby Stills Nash e Young, Traffic, Cream e muito Grateful Dead. A questão é: eu ouvia tudo isso? Comprei, como bom aluno, tudo que a crítica MANDAVA, mas o que eu escutava todo dia? Não, não era Heavy e rock básico, isso era PECADO, não chegava nem perto. Mas esses discos endeusados pelos cabeças, confesso, eu ouvia uma vez e guardava. Então, preso entre o que ERA INTELIGENTE, e o que era escutado pelos meus amigos, eu me escondia no meio termo e passei 1980 com Rolling Stones, Jorge Ben, Dire Straits, Police e Pretenders. Não eram queridinhos dos jornais, mas também não eram odiados pelos DONOS DO BOM GOSTO. Eu não tinha prazer com os caras do tal BOM GOSTO CRÍTICO, mas não tinha coragem de romper. Um bundão